O medo voltou à Ilha Grande dos Marinheiros, na Capital. Moradores revivem o drama de ter sua rotina controlada pelo tráfico. A situação agravou-se, desta vez, a partir do assassinato de Márcio dos Santos Xavier, o Nego, na madrugada de sábado passado.
Depois da morte do traficante Nego, um toque de recolher teria sido implantado por criminosos na ilha.
- Ficou pior de transitar na comunidade sem correr o risco de levar umas boas bofetadas ou até ser atingido por uma bala perdida - diz uma moradora, que pediu para não ser identificada.
Outros habitantes da Ilha dos Marinheiros afirmam que, ao anoitecer, as ruas ficam praticamente desertas. Carros e motos só circulam se estiverem com os faróis apagados. Qualquer pessoa, incluindo moradores, é obrigada a se identificar para os traficantes.
Guerra do tráfico apavora Ilha do Pavão
Na Escola Estadual Alvarenga Peixoto, a direção confirma que as aulas noturnas foram suspensas na segunda-feira e ontem. Além do risco de tiroteios, há um outro fator prejudicando o andamento do ano letivo: os alunos que moram na Ilha do Pavão (bem como qualquer outro morador) correm risco se forem à dos Marinheiros.
As duas ilhas são separadas pela ponte sobre o Canal Furado Grande, e a van que transporta os estudantes não tem feito a travessia, devido ao riscos. Uma professora ligada à direção da escola informou que já houve pedidos de transferências de alunos da Ilha do Pavão para escolas de fora do Arquipélago.
Depois de execução no Pavão, escolas e posto de saúde fecham em outras duas ilhas em Porto Alegre
Nos turnos da manhã e da tarde, as aulas seguem normalmente na Alvarenga Peixoto. Mas, para a entrada e a saída dos alunos, a 5ª Companhia do 9º BPM tem garantido apoio, enviando uma guarnição para o local.
A disputa no Arquipélago
A violência acentuou-se e ficou descontrolada a partir do dia 28 de outubro do ano passado, quando foi morto, em Alvorada, o traficante Alexandre da Silva, o Alemão Ovelha, 40 anos. Ele era considerado pela polícia o patrão do tráfico entre as quatro ilhas do Arquipélago (Pavão, Marinheiros, Flores e Pintada).
A execução de Alemão Ovelha desencadeou uma guerra pelo controle do tráfico no Arquipélago. Na noite do mesmo dia, um tiroteio resultou na morte de Isaac da Silva Duarte, 24 anos, na Ilha do Pavão.
Dois dias depois, no dia 30, a creche e o posto da Ilha dos Marinheiros foram fechados devido a boatos de que haveria ataques na região. Foi dito que criminosos ameaçavam invadir a Ilha do Pavão a partir dos Marinheiros. A BM respondeu no dia seguinte, ocupando a região.
No dia 2 de novembro, foram encontrados os corpos de Douglas de Almeida, 13 anos, e Abdiel de Campos, 20 anos, submersos no Guaíba. Eles teriam sido executados juntamente com Isaac, na terça-feira anterior.
No dia 20 de novembro, Cassiano Ismael dos Santos Alves, o Barriga, 20 anos, foi retirado da casa onde dormia, na Ilha do Pavão, arrastado até o meio da rua e executado com mais de dez tiros de pistolas 9mm e .380.
Em maio deste ano, foram decretadas as prisões preventivas de Márcio dos Santos Xavier, o Nego, e Joaquim da Silva Santiago Neto, o Júnior. Eles seriam aliados de Alemão Ovelha e suspeitos do assassinato de Barriga. Porém, eles e outros nove integrantes do bando escaparam devido à publicação dos mandados no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) antes da operação realizada pela 2ª DHPP para prendê-los.
Na madrugada de sábado passado, Nego foi morto em uma casa na Ilha Grande dos Marinheiros. O crime desencadeou a nova onda de violência.