Apesar do ritmo lento da economia e da retração do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2015, o Banco Central elevou a taxa básica de juro mais uma vez. O Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a Selic de 13,25% para 13,75% ao ano - a maior desde a crise econômica internacional em 2008.
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O aumento - o sexto consecutivo - era esperado por analistas do mercado financeiro. Com uma taxa mais alta de juro, o Banco Central (BC) tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação, que em abril registrou 8,13% em 12 meses, bem acima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%.
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A dúvida maior de especialistas era sobre o tamanho da dose que seria administrada pelo BC para segurar o avanço dos preços em um momento delicado para a equipe econômica. Cinco dias atrás, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou que a economia brasileira encolheu 0,2% entre janeiro e março. Nesta quarta-feira, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE apontou que a taxa de desemprego chegou a 8% em abril. A nova alta do juro deve tornar o cenário mais complicado porque impacta diretamente o consumo das famílias e o investimento de empresas, que já vem encolhendo desde o início de 2015. A Selic é uma taxa de referência para aplicações e empréstimos.
- O novo aumento de juros acontece, apesar do baixo nível de atividade na economia, para evitar remarcação de preços e impedir o retorno de um nível maior de indexação, quando uma inflação passada é repassada para frente, como aquele existente na década de 1980. É uma questão de expectativa, mas importante - afirma Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
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Apesar do aumento do juro, o próprio Banco Central já admite que a inflação não chegará a dezembro dentro da meta. O BC tem dito que trabalha para evitar a propagação da elevação de preços neste ano e para trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o final de 2016. Para 2015, o mercado prevê IPCA de 8,25%, o maior patamar desde 2003.
Do lado da atividade econômica, analistas dão como certo de que o país deve entrar em recessão, a exemplo do registrado no ano passado. A chamada recessão técnica se caracteriza por dois trimestres seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB).
- Entendemos que o reequilíbrio da economia brasileira é uma condição necessária para a retomada do crescimento. Porém, o aumento na taxa representa um peso adicional sobre empresários e consumidores, já penalizados pelas elevações de tributos. A contribuição do setor público deveria ser mais ativa, por meio de um profundo corte nos gastos - afirmou Heitor José Müller, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Expectativa de novas altas até o fim do ano
O ciclo de alta da Selic não chegou ao fim com a alta de 0,5 ponto percentual anunciada na noite desta quarta-feira. Entre especialistas, é unânime a expectativa de pelo menos mais uma elevação do juro neste ano. Apesar do dragão inflacionário dar sinais de que vai voar mais baixo no segundo semestre do ano, a preocupação com a capacidade de o governo implantar todas as medidas de ajuste fiscal planejadas alimentam a necessidade de um novo aumento. Segundo as expectativas divulgadas no Boletim Focus, que reúne as tendências futuras para a economia nacional, a taxa básica de juro tende a chegar ao fim deste ano a 14%.
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- Vai depender do comportamento da inflação, que tem se mostrado resistente. Os ajustes nas tarifas administradas pelo governo (energia, combustível e transporte) foram feitos e os preços devem começar a ceder, mas é preciso avaliar com calma. Se o governo não conseguir diminuir de tamanho, a inflação não cairá - pondera Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.
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A trajetória de alta do juro básico da economia, iniciada em setembro do ano passado, começou a refletir no custo dos financiamentos imobiliários. A Caixa, por exemplo, já decidiu aumentar o juro para financiar a casa própria por duas vezes somente nos primeiros meses do ano. A medida foi seguida por outros bancos públicos e privados do país.
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