Diário de Santa Maria - O senhor acredita que houve alguma falha de condução nesse processo envolvendo o pedido solicitado à instituição? Em que momento as coisas fugiram do controle?
Paulo Burmann - Primeiro, nós achamos que não existe algum elemento que tenha fugido do controle. O que tem é um processo que foi deflagrado com base em um documento fraudado. Uma fraude. E esse fraude vai ser apurada. A sua origem, como ela foi disseminada. Quem são os autores. Porque isso interessa muito à instituição e à comunidade como um todo. A comunidade quer e precisa saber: Qual a origem? Como isso começou? A universidade está respondendo a Lei de Acesso à Informação. Agora, não tem nenhuma tese que diz que a Lei de Acesso à Informação não pode ser cumprida. Bom, se temos uma lei e se vamos deixar de cumprir uma lei? Não. Não temos esse pensamento como instituição pública nem como cidadão. O que está sendo posto é que a universidade estaria elaborando uma lista. Em nenhum momento isso está sendo mencionado. Não existe lista. A pergunta foi muito objetiva: existe estudante ou não (israelense)? Existe professor ou não (israelense). Tanto é que todas respostas que obtivemos foi "não". Porque todos entenderam que a resposta era "sim" ou "não". Não tem? A resposta é não.
Diário - Chegou a ser encaminhado algum documento respondendo àquelas instituições (Assusfsm, Sedufsm, DCE e Comitê Santa-mariense de Solidariedade ao Povo Palestino)?
Burmann - Nós estamos compilando e temos de responder. Estamos cumprindo e responderemos aos cinco itens (em referência aos questionamentos feitos). Nós sequer podemos questionar a finalidade (dessas perguntas) e a lei nos impede de fazer isso. Se você chega aqui na universidade e pergunta sobre determinado assunto, a universidade vai ter de responder, independentemente, da motivação que a tenha feito fazer esse questionamento. E a toda hora chegam perguntas à universidade.
Diário - O senhor chegou a ir, na sexta-feira, à sede da PF e falou espontaneamente à polícia. O que foi questionado e o que o senhor disse?
Burmann - As noticias davam conta da denúncia de uma queixa-crime contra a universidade. Mas o que nos levou (até a PF) foi a solicitação de uma investigação em torno da fraude que se constitui um crime e que expôs nossa instituição. As pessoas autoras dessa fraude serão responsabilizadas e os disseminadores igualmente (responsabilizados). A nossa procuradoria jurídica está acompanhando todo esse processo.
Diário - Há suspeitos ou se imagina quem possa ter feito isso?
Burmann - Não, não temos.
Diário - Qual o seu posicionamento sobre o fato de esses sindicatos levantarem bandeiras que não são da UFSM e, até mesmo, própria dos seus sindicatos como, por exemplo, a causa palestina?
Burmann - As entidades representativas têm sua vocação e não cabe a nós dizer como elas devem agir. Nesse aspecto não temos nenhuma observação a fazer. Todas as ações das entidades são de responsabilidade das entidades. Não são de responsabilidade da universidade. Uma corporação tem suas motivações e, normalmente, as ações são em torno da causa da corporação.
Diário - Quando o senhor concorreu a reitor o senhor se elegeu com a bandeira do diálogo e isso acabou levando o senhor a uma aproximação desses três sindicatos (Assufsm, Sedufsm e DCE). Aberta ou veladamente se tinha o seu nome como o candidato deles, essa aproximação pode fazer com que eles tenham um canal de abertura maior com o senhor?
Burmann - Nenhuma dessas entidades apoiou ou participou da campanha pra nenhum candidato e se mantiveram independentes na disputa. Obviamente que tivemos apoio de alunos, professores e técnicos-administrativos. Até porque não teríamos sido eleitos. Não houve durante a campanha, nenhuma movimentação nossa, no sentido de pedir apoio, porque entendemos que essas instituições têm o papel de defender os interesses de suas categorias. Não se pode fazer esse vínculo. Esse vínculo não procede. O nosso perfil é o do diálogo permanente com todos os setores da universidade, de fora dela e da sociedade civil - seja ela organizada ou não. A essência da universidade é o respeito à diferença, é o espaço da diversidade, é o espaço do conhecimento, do contraponto. Assim funciona a nossa universidade e mais ainda nesses últimos meses. E assim recuperar o espaço social da universidade.
Diário - Na queixa crime, feita pelo professor da UFRGS, ele diz que o pedido de informações é de perseguição, de racismo e de antissemitismo a quem é de Israel?
Burmann - Não é esse o nosso entendimento. Até porque a queixa-crime que ele fez é com base em um documento fraudado. A base da queixa-crime é um documento fraudado.
Diário - O senhor deve ter acompanhado a repercussão do episódio. Blogueiros, escritores, jornalistas e, até mesmo, a ex-governadora Yeda Crusius fez duras críticas ao senhor, à gestão e à forma como esse processo foi conduzido. Por tudo isso, fica um saldo de risco à imagem da instituição?
Burmann - Sem dúvida nenhuma. A imagem da instituição está abalada e é o que mais nos preocupa nesse momento. Mas principalmente por isso ter sido gerado em cima de uma interpretação equivocada sobre um documento fraudado. E precisamos ter responsabilidade sobre os nossos atos. E talvez fique uma análise política mais profunda do que nós fizemos. Esse documento chegou em agosto do ano passado e desde então estávamos analisando.
Diário - Se avaliou o risco de se conceder essas informações?
Burmann - Óbvio. Nós temos uma lei e todos os caminhos que nós buscamos esbarramos na lei. Todos os caminhos de não se responder esbararamos na lei. Nós tínhamos uma interpretação de risco político. Ao mesmo tempo, vivemos sob o olhar permanente dos órgãos de controle: todos os passos que a universidade dá tem uma vigilância permanente dos órgãos de controle como MPF, CGU, TCU, entre outros. E é lógico que temos de tomar cuidado. Jurídica e tecnicamente a ação foi correta. Primamos pela lei. Esse processo originou-se e essa discussão originou-se em cima da fraude. Muita gente falou e emitiu comentários e avaliações em cima de documento fraudado. Temos muito claro que, primeiro a origem, a responsabilidade sobre o questionamento não é da universidade. Não estamos querendo nos eximir das reponsabilidades das consequências, mas a reponsabilidade do questionamento não é nossa. Segundo, a universidade deu encaminhamento legal com base na lei e amparada técnica e juridicamente, o que dá legalidade ao processo. Terceiro, o documento não solicita identificação ou lista ou nome de quem quer que seja. Não há listas, não há nomes seja no documento original ou no fraudado. Claro que há manifestações muito oportunistas para se criar um mito de uma universidade racista quando ao contrário estamos debruçados de um cenário de política inclusiva e de respeito às diferenças. Há nitidamente uma grande contradição em que se vê a universidade se esforçando para acolher a comunidade e paralelamente uma denúncia de segregação. Não há o menor sentido. A universidade arriscou-se a responder um questionamento sobre um tema que poderia ter repercussão no cenário politico de relações de povos. Esse questionamento não se originou dentro da universidade. A instituição está intermediando esse processo. Temos estudantes das mais variadas etnias. E a pergunta não é sobre etnia. E sim de nacionalidade. E reside aí uma grande diferença. Não estamos tratando no documento de judeus ou de israelitas. Estamos tratando de israelenses como poderíamos tratar de americanos, ingleses, italianos, de nacionalidades. A dificuldade reside aí. O que coincidentemente é um tema polêmico que envolve o conflito entre dois povos e que a univesidade nao tem o menos interesse em esatabelecer juizo de valor.