Um ofício encaminhado pela reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com o objetivo de iden­­tificar a presença de israelenses na instituição despertou controvérsia em redes sociais e motivou o envio de uma notícia-crime ao Ministério Público Federal (MPF) por preconceito.
O pró-reitor adjunto de pós-­graduação, José Fernando Schlosser, enviou dia 15 de maio um memorando aos programas de pós­-graduação questionando quais deles têm "presença ou perspectiva de discentes e/ou docentes israelenses". Segundo a reitoria, o objetivo era responder uma das cinco perguntas encaminhadas por Diretório Central dos Estudantes (DCE), Seção Sindical dos Docentes (Sedufsm) e Associação de Servidores (Assufsm) em nome do Comitê Santa-Mariense de Solidariedade ao Povo Palestino.
A justificativa das entidades, apresentada no documento baseado na Lei de Acesso à Informação, seria averiguar possível convênio da UFSM com a empresa israelense Elbit - que consideram responsável pelo fornecimento de tecnologia militar utilizada por Israel em confrontos com palestinos.
A polêmica ganhou ainda mais força quando o ofício do pró-reitor foi espalhado em redes sociais com uma adulteração de autoria desconhecida: uma mensagem em inglês dizendo "Boicote a Israel". O professor universitário aposentado Luis Milman enviou notícia-crime ao MPF por discriminação e preconceito contra o povo judeu. O caso poderá resultar em inquérito após análise.
- O ofício é um ato discriminatório - diz o presidente do Conselho Geral das Entidades Judaicas do RS, Henry Chmelnitsky.
O reitor da universidade, Paulo Burmann, nega preconceito:
- Procuramos atender à Lei de Acesso. Não pedimos o nome de ninguém, só números.
Para Milman, a ausência de nomes não elimina o preconceito:
- Não precisa citar nome para haver discriminação. A lei não pode ser usada para levantar informações sobre vida pessoal.
No Facebook, Schlosser diz que "o pedido de informação baseou-­se no dever da informação pública". O DCE informou que deverá se manifestar nos próximos dias. Alfredo Lameira, coordenador da Assufsm, afirmou que a intenção era verificar se havia algum tipo de acordo vigente entre a UFSM e a Elbit. A direção da Sedufsm não atendeu aos telefonemas de ZH.
A origem da polêmica
2013
Abril - Em viagem a Israel, o então governador Tarso Genro acerta convênio com a empresa de tecnologia Elbit Systems. O acordo era parte de um plano de criar um polo aeroespacial no RS.
Junho - O Piratini cria comissão para viabilizar o polo, baseado em parcerias com empresas e instituições de ensino como a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O acordo com a Elbit é criticado por entidades pró-Palestina que veem a empresa como fornecedora de tecnologia militar empregada por Israel no confronto com palestinos.
2014
Agosto - Entidades de estudantes, professores e servidores da UFSM contrárias a um acordo com a Elbit entregam documento ao reitor com cinco perguntas sobre eventual relação da universidade com empresas ou pessoas israelenses. Uma dessas questões é sobre se há israelenses atuando na universidade. O reitor sustenta que o acordo não vingou por falta de financiamento.
2015
Abril - Ainda em busca de um comunicado oficial sobre eventual parceria com a Elbit, as entidades reencaminham o documento apresentado no ano anterior por meio da Lei de Acesso à Informação. Para responder a uma das questões, a pró-reitoria de pós­graduação manda ofício aos cursos questionando se há "discentes e/ou docentes israelenses" em cada um deles.
Maio - Cartazes de autoria desconhecida são espalhados nas redes sociais. Reproduzem o ofício da pró-reitoria, mas, sobre o documento, foi inserida uma mensagem em inglês dizendo "Liberdade para a Palestina. Boicote a Israel". O caso ganha repercussão e uma notícia-crime contra a reitoria da UFSM por discriminação é encaminhada ao Ministério Público Federal.