O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve adiar para agosto a nova lista de pedidos de abertura de inquérito com base no depoimento bombástico do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC - delator na Operação Lava-Jato.
Pessoa detalhou, em maio, o maior e mais completo roteiro de desvios de dinheiro de obras da Petrobras para pagamento de propinas a políticos. O suborno teria sido pago por um cartel de empreiteiras, interessado em ficar com os maiores e melhores contratos da estatal - entre elas a UTC, presidida pelo delator.
O depoimento de Pessoa durou quatro dias e tem mais de 80 páginas. O empreiteiro aponta 18 políticos ou campanhas que teriam recebido contribuições das construtoras, a partir de desvios da verba da Petrobras. Entre elas, as campanhas presidenciais de Dilma Roussef e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de Aloysio Nunes Ferreira, o mais importante senador do PSDB. No caso da presidente e do ex-presidente, o delator implica os arrecadadores de campanha. Não há menção explícita a Dilma e Lula.
A expectativa em Brasília era de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitasse de imediato ao Supremo Tribunal Federal (STF) retorno a pedidos de investigações sobre os fatos relatados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa. Isso não vai acontecer, porque o Judiciário entra em recesso nesta quarta-feira. Por um mês, só serão apreciadas situações urgentes, o que não é o caso dessa investigação da Lava-Jato. Com isso, inquéritos devem tramitar a partir de agosto, quando a Justiça volta a trabalhar. Janot, que apresentará as solicitações, é candidato à reeleição para o cargo na PGR.
Isso não significa que os procuradores da República ficarão inertes. Eles já trabalham checando pistas fornecidas por Pessoa e cotejando as informações dele com as dos outros 15 delatores da Lava-Jato. Antes mesmo de pedir a abertura de inquéritos, a PGR já fez 29 petições ao STF, todas relativas ao depoimento de Ricardo Pessoa. O conteúdo não foi revelado, mas podem estar incluídas aí solicitação as quebras de sigilo fiscal, telefônico e telemático (informática) e também cópias de gravações de vídeo dos encontros do empreiteiro com representantes dos políticos que receberam suborno. A resposta do Supremo, porém, só deve sair em agosto.
Alguns inquéritos não serão solicitados pela PGR e sim por procuradores da República nos estados. Serão aqueles em que o político não está em atividade e perdeu o foro privilegiado. Seria o caso, por exemplo, do ex-ministro José Dirceu (PT), que prestou consultoria à UTC após deixar de ser parlamentar ou ministro. Todos os mencionados por Pessoa na delação negam irregularidades e afirmam que as doações de dinheiro pela UTC foram declaradas e com recibo.
Veja a lista de políticos, tesoureiros de campanha e valores aos quais a UTC teria pago suborno, segundo a delação de Ricardo Pessoa:
Contribuição Valor
- Campanha de Dilma Rousseff em 2014 R$ 7,5 milhões
- Campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 R$ 2,5 milhões
- Ministro Edinho Silva (PT), ex-tesoureiro da campanha de Dilma valor não informado
- Ministro Aloizio Mercadante (PT) R$ 250 mil
- Senador Fernando Collor (PTB-AL) R$ 20 milhões
- Senador Edison Lobão (PMDB-MA) R$ 1 milhão
- Senador Gim Argello (PTB-DF) R$ 5 milhões
- Senador Ciro Nogueira (PP-PI) R$ 2 milhões
- Senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) R$ 200 mil
- Senador Benedito de Lira (PP-AL) R$ 400 mil
- Deputado José de Fillipi (PT-SP) R$ 750 mil
- Deputado Arthur Lira (PP-AL) R$ 1 milhão
- Deputado Júlio Delgado (PSB-MG) R$ 150 mil
- Deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) R$ 300 mil
- Prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT-SP) R$ 2,6 milhões
- Ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto R$ 15 milhões
- Ex-ministro José Dirceu R$ 3,2 milhões
- Ex-presidente da Transpetro Sergio Machado R$ 1 milhão
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