O Ministério Público investigará a presença do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Rocinha, no Rio de Janeiro, na noite em que o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu, em 14 de julho de 2013. Segundo informações exibidas com exclusividade pelo Jornal Nacional nesta segunda-feira, o órgão teve acesso a novas imagens de uma câmera de segurança instalada nas proximidades da UPP da comunidade.
Nas imagens, é possível perceber quando um comboio com quatro caminhonetes do Bope chega no local, por volta das 23h59min, quase cinco horas depois do desaparecimento de Amarildo.
Conforme a reportagem, na época, o então comandante da UPP, Major Edson Santos disse que pediu reforço do batalhão porque havia risco de uma invasão de traficantes. Porém, com as novas imagens, os promotores concluíram que não foi isso que aconteceu.
- A presença do Bope precisa ser realmente esclarecida. Tem uma justificativa oficial. Que a iminência de um ataque à UPP, mas aí a gente vai lá para as escutas dos traficantes, nenhuma movimentação de ataque a UPP, nenhum comentário nesse respeito. E você tem um outro dado, policiais que estavam ali foram dispensados, exatamente na hora em que o Bope é acionado. Então por que realmente o Bope foi pra lá? - questionou a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que investiga o caso Amarildo.
As imagens, que estão sendo analisadas pelo MP, mostram que a primeira e a segunda caminhonete do Bope chegam sem ninguém na caçamba. Só a terceira e a quarta caminhonetes têm policias armados na parte traseira. Cada uma, com dois homens. Conforme os promotores, todas as caminhonetes passaram pelo local com os GPS ligados. No entanto, na sede da UPP, o equipamento de um dos carros parou de funcionar à 0h24 e, 12 minutos depois, essa mesma caminhonete vai embora com o GPS desligado.
Depois, outros dois carros do Bope deixam a UPP: o primeiro com dois policiais em pé e um sentado e outro com a caçamba cheia. São dois policiais em pé, um agachado e outro, do lado direito, sentado, com a perna para fora.
As imagens levantaram suspeitas no MP de que, na caçamba, poderia haver um "volume" enrolado em um material preto.
- As testemunhas falam que foi solicitado uma capa de uma moto. O que a gente conclui é que o corpo do Amarildo foi colocado naquela capa da moto. Uma capa preta e fechado com fita adesiva. Lacrado, né - explicou a promotora.
Outro fato que levantou suspeitas no Ministério Público é uma parada de cerca de dois minutos que o comboio teria feito no trajeto de volta, em um ponto cego, sem cobertura de câmeras de segurança.
Cerca de 10 homens da corporação serão investigados.