Quatro dias antes do prazo final dado à Grécia para pagamento de 305 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI), e diante do fracasso em obter uma renegociação global das obrigações com credores, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, elevou o tom. Em artigo publicado no domingo no jornal francês Le Monde, o premier perguntou, dirigindo-se às autoridades europeias:
- Qual estratégia prevalecerá? A que prega uma Europa de solidariedade, igualdade e democracia, ou a que apela por ruptura e divisão?
E acrescentou, rebatendo a ideia de que o assunto interesse unicamente à Grécia:
- Eu sugeriria que relessem a obra-prima de Hemingway, Por Quem os Sinos Dobram.
Tsipras não é o tipo de sujeito que, em meio a uma crise que pode significar o fim de seu governo, dá dicas de livros. Sua mensagem é endereçada especialmente aos líderes social-democratas da França, da Espanha e da Itália, afetados pelas políticas de austeridade e espremidos entre a extrema-direita e os partidos ditos populistas, que tendem a rejeitá-las.
Grécia diz que não vai pagar ao FMI dívida de 1,6 bilhão de euros
Da Espanha, há boas notícias para Tsipras: embora os dois principais partidos da austeridade, PP e PSOE, tenham sido os mais votados nas eleições locais de 25 de maio, a coligação Podemos venceu em Barcelona e pode governar Madri.
Da Itália, também: o PD, do primeiro-ministro Dario Renzi, ficou com 23,7% dos votos nas eleições regionais de domingo, mas o Movimento Cinco Estrelas, antissistema, abocanhou 18,4%. Na França, o presidente François Hollande enfrentou uma forte oposição interna para impor Jean-Christophe Cambadélis como secretário-geral do PS.
A centro-esquerda europeia não precisa reler Hemingway para saber por quem os sinos dobram. Mas isso não a fará mais branda com a Grécia.
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