Luiz Antônio Araujo: acostumados a bombardeios

Assisti a um bombardeio da coalizão liderada pelos Estados Unidos contra posições do Estado Islâmico (EI) em Kobane, no norte da Síria, em novembro do ano passado. A cidade havia sido abandonada pela maioria de seus 30 mil habitantes, alguns dos quais eu encontraria em campos de refugiados na Turquia.

No centro de Suruç, perguntei a um comandante curdo como o EI conseguia resistir ao poderio aéreo aliado. Ele coçou a barba, deu um sorriso irônico e disse:

- Bem, você sabe, esses caras estão acostumados com bombardeios.

Em fevereiro, um relatório das Nações Unidas estimou a existência de 15 mil estrangeiros nas fileiras do EI na Síria e no Iraque. Em alguns lugares, os forasteiros são ou foram maioria, como em Hasaka, no norte da Síria, onde, segundo ouvi de um morador, a única frase que os 500 chechenos do EI conseguiam pronunciar em árabe era "Onde estão os apóstatas?".

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Esses veteranos da "guerra ao terror" receberam treinamento na Bósnia, no Afeganistão, na Chechênia e nos exércitos regulares de dezenas de países. Recentemente, o Tajiquistão, na Ásia Central, afirmou que seu maior especialista em guerra cibernética havia desertado para o EI. Diferentemente do Talibã em 2001, esse não é o tipo de gente que foge de explosões.

Ao concordar em enviar 450 homens de volta ao Iraque, incrementando em 15% o contingente americano no país, o presidente americano, Barack Obama, está dando um passo atrás. Afinal, ele se elegeu prometendo sair do Iraque. Não funcionou a opção por dar cobertura aérea ao infeliz exército iraquiano.

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Por outro lado, os iranianos, que investiram pesadamente na libertação de Tikrit, parecem ter indicado a Washington sua falta de disposição de fazer tudo sozinhos, pelo menos até o fim das negociações nucleares. Os tempos em que o número de soldados americanos no Iraque diminuíam parecem ter chegado ao fim.