Na Cinecittà, uma série de estúdios construída por Mussolini em Roma, em parte para produzir propaganda fascista, uma catapulta está estacionada ao lado do Estúdio 13. Não muito longe, algumas bigas recebem os últimos retoques. Os artefatos serão usados na refilmagem do épico de 1959, "Ben-Hur", produção que ocupa quase todo o espaço do grande estúdio, se não todo ele.
Outros cinco estúdios foram usados para filmar a comédia de Ben Stiller, "Zoolander 2". E a equipe do thriller "Spectre" de James Bond esteve lá em março para as cenas que se passam em Roma, incluindo uma na Ponte Sisto, antiga ponte sobre o Rio Tibre, e outras ao longo das avenidas de Nomentano.
A chegada recente de Hollywood - que andava por aqui nas décadas de 50 e 60 - se deve, em parte, ao fato de que Roma é uma das cidades mais visualmente atraentes e historicamente ressonantes do mundo, mas também se trata de dinheiro. Ao perceber que vários países ofereciam incentivos financeiros para atrair as lucrativas produções, o ministério da Cultura da Itália resolveu suavizar os créditos fiscais para as empresas estrangeiras de cinema.
- Era isso que queríamos. Éramos uma empresa lutando contra nações - disse Giuseppe Basso, gerente-geral da Cinecittà que recentemente visitou Los Angeles na tentativa de atrair grandes estúdios para fazerem filmes na Itália, em vez de outros países.
Para os romanos comuns, o novo influxo de filmes forneceu assunto para os paparazzi locais, pois astros como Stiller e Daniel Craig, que interpreta James Bond, foram vistos andando pela cidade, fato que gerou uma nova oportunidade para as queixas e reclamações de sempre sobre a sujeira e decadência de Roma e o fato de as autoridades municipais não fazerem nada a respeito - exceto quando equipes de filmagem estão por aqui.
"Caro James Bond, por favor, não vá embora de Roma! Você conseguiu algo que parecia impossível. Um exemplo? Fez os guardas de trânsito trabalharem à noite", escreveu o jornalista Fabrizio Roncone em uma falsa carta publicada no Corriere della Sera, o principal jornal nacional. E acrescentou: "E para poupar a suspensão de seu lendário Aston Martin, inúmeros buracos foram tapados. Pode acreditar - um milagre!"
Os dias de glória do cinema de Hollywood em Roma vieram durante as décadas de 50 e 60 - a era chamada de Hollywood no Tibre. Para muitos americanos, o filme marcante foi "A Princesa e o Plebeu" (1953), em que Audrey Hepburn e Gregory Peck andam de lambreta pela cidade. Mas as grandes produções foram os bem-sucedidos filmes históricos, incluindo "Quo Vadis" (1951) e "Ben-Hur".
O maior de todos, "Cleópatra" (1963), era até então o filme mais caro da história, com custos enormes que quase levaram a 20th Century Fox à falência. Os dois astros, Elizabeth Taylor e Richard Burton, tiveram um caso tórrido que fez a alegria das revistas de fofocas ao redor do mundo. (Em comparação, a maior fofoca que surgiu durante as filmagens de "Spectre" é que Craig aparentemente bateu a cabeça ao dirigir o Aston Martin, cortesia de um buraco em uma rua romana).
Antonio Monda, professor de Cinema da Universidade de Nova York, disse que a conexão Hollywood-Roma foi diminuindo gradualmente na década de 60 por vários motivos, incluindo a obrigatoriedade da inclusão de italianos nas equipes de filmagem. Filmes estrangeiros ainda vinham para a Itália, mas países como a Bulgária, a Romênia e a República Tcheca gradualmente começaram a oferecer alternativas de baixo custo.
- Se não há uma lei de incentivo, as locações, mesmo as mais belas do mundo, como Roma, se tornam menos atraentes. Se você tem que gastar 100 euros em Roma e 30 na Romênia, vai para a Romênia. Mas se pode gastar 40 em Roma e, digamos, 35 ou 40 na Romênia, acaba vindo para Roma - disse Monda, que recentemente foi nomeado diretor artístico do Festival de Cinema de Roma.
A política foi iniciada em 2014 e permite que cada empresa de produção reivindique uma dedução no imposto de até 10 milhões de euros (quase US$ 11 milhões - cerca de R$ 34 milhões) nos gastos feitos na Itália, o que quer dizer que filmes de grande orçamento produzidos por mais de uma empresa obtêm maiores vantagens.
Produções como o novo "Ben-Hur" podem chegar a custar até US$ 55 milhões (R$ 171 milhões) só na parte romana da produção. Em 2014, a Itália arrecadou aproximadamente US$185 milhões de 53 filmes estrangeiros feitos no país, de acordo com o ministério da Cultura.
- Esperamos que continue a melhorar. O país se tornou competitivo - disse o ministro da Cultura, Dario Franceschini.
Na Cinecittà, um pequeno museu mostra a época de Hollywood no Tibre e os westerns spaghetti que foram filmados na Itália em meados da década de 60 que transformaram Clint Eastwood em um astro.
- Roma foi sempre um centro de cinema e deve continuar assim - lembrou Basso.