A Polícia Civil indiciou nove presos e dois agentes penitenciários pelo assassinato de Cristiano Souza da Fonseca, o Teréu, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Asfixiado com sacolas plásticas na refeitório do presídio em 7 de maio em uma ação que durou 11 minutos e 33 segundos, o traficante teve a morte comemorada com foguetes no condomínio Princesa Isabel - ponto de tráfico comandado por grupo rival.
Segundo o delegado de Charqueadas, Rodrigo Reis, o crime foi planejado pelos detentos (confira, abaixo, a atuação de cada um deles no homicídio). Eles foram indiciados por homicídio duplamente qualificado e já tiveram as prisões preventivas por esse crime decretadas.
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Já o indiciamento dos agentes penitenciários foi por homicídio culposo e se deu em função de omissão. Os dois servidores estavam na sala de monitoramento das câmeras da Pasc e, ao negligenciarem a visualização das telas, contribuíram para a morte.
Os agentes não tiveram os nomes divulgados pela Polícia Civil para que fosse preservada a defesa, conforme o delegado, já que eles não tiveram prisões decretadas. Reis afirma que a investigação não apontou ligação direta da participação dos guardas no crime:
- Não foi comprovado que os agentes tenham participado do delito de homicídio qualificado, que tinham a intenção ou mesmo se omitido propositalmente para que a vítima viesse a morrer. O que conseguimos constatar é que houve, sim, uma negligência e imprudência na sala de controle. Deixando de tomar os cuidados necessários, contribuíram para a morte.
Para a Polícia Civil, não foi possível identificar uma motivação principal para a morte de Teréu - mas uma "comunhão de interesses" teria acarretado o homicídio. Haveria uma pressão externa à Pasc para que ele fosse executado, e depoimentos de apenados indicaram que a ação violenta do traficante, que teria inclusive expulsado famílias de suas casas, desagradava outros criminosos.
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O crime
Dois dias após ser transferido do Presídio Central para a Pasc, Teréu foi morto por asfixia e estrangulamento em um refeitório da prisão de Charqueadas. Imagens flagraram um grupo de presos participando do crime.
Confira a atuação de cada um dos indiciados no crime:
Ubirajara da Silva Barbosa (conhecido como Bira): Responsável por visualizar e cuidar a movimentação da guarda do presídio no crime. Ao perceber que os agentes não estavam atentos, fez o sinal para que o crime fosse executado. Depois, distraiu dois presos ligados a Teréu no corredor do presídio para evitar que impedissem a morte do traficante.
Paulo Márcio Duarte da Silva (conhecido como Maradona): Recebeu o sinal de Ubirajara e avisou outros três apenados para que dessem início à ação. Foi ele quem colocou a segunda sacola sobre a cabeça de Teréu.
Luciano Alves Pereira: Derrubou a vítima e a imobilizou com auxílio de outros dois presos. Posteriormente, colocou a primeira sacola sobre a cabeça de Teréu.
Rudinei Henrique de Abreu: Agiu no estrangulamento da vítima. À polícia, admitiu participação no crime.
Rudinei Pereira da Silva: Com Luciano e Rudinei Henrique, participou do estrangulamento do traficante.
Fernando Gilberto de Oliveira Araújo: Bloqueou a porta de acesso ao refeitório para evitar que apenados deixassem o local. Também se posicionou em local que dificultava que os guardas visualizassem o interior da sala. Foi quem levou as duas sacolas para a execução.
Daniel Pereira Lopes: Circulou dentro e fora do refeitório durante a ação. Ele auxiliou na execução ao dificultar a respiração de Teréu pisando sobre o seu corpo da vítima, na região do tórax, por cerca de 26 segundos. Depois, ajudou a arrastar o corpo.
Paulo Leonardo Paixão Moraes: Cuidou da movimentação da guarda e, com a vítima próxima a seus pés, continuou comendo - dando uma aparência de normalidade à ação.
Erick Brum Paz: Também circulou dentro e fora do refeitório durante a execução, ajudou a limpar o corpo da vítima e o chão e verificou os sinais vitais de Teréu depois de morto. Ele ainda retirou as sacolas da cabeça do traficante e as eliminou.
Agente penitenciário 1 (não teve o nome divulgado pela polícia): Era a responsável pelo monitoramento das câmeras de vigilância da Pasc e, ao negligenciar o trabalho e não avistar o que estava acontecendo no refeitório, não avisou os demais guardas e contribuiu para a morte, segundo a polícia.
Agente penitenciário 2 (não tem o nome divulgado pela polícia): Não era o responsável pelo monitoramento das câmeras de vigilância, mas entrou no setor e, ao conversar e chamar a atenção da agente que deveria realizar o serviço, a distraiu.
Os noves detentos foram indiciados por homicídio doloso (com intenção) duplamente qualificado.
Os dois agentes foram indiciados por homicídio culposo (sem intenção), por negligência.
Os motivos
Pelas conclusões da polícia, uma conjugações de fatores teria motivado os presos a matarem Teréu. Entre eles, estariam a forma violenta como havia tratado outros criminosos, a expulsão da família de um deles do Beco dos Cafunchos, onde Teréu era o líder do tráfico, e o desaparecimento de um taxista e de um líder comunitário nesta mesma região.
Leia as últimas notícias
Veja como estavam distribuídos os agentes da Pasc no momento do crime:
* Zero Hora e Diário Gaúcho