A médica veterinária Eliza Komninou, 34 anos, foi a última pessoa a falar com a professora Cláudia Pinho Hartleben, 47 anos, na noite de 9 de abril. A seguir, trechos da entrevista que concedeu a Zero Hora.
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Como foi o encontro?
Ela veio me visitar depois do trabalho. Ficamos umas duas horas conversando, rindo o tempo inteiro. Uma visita muito agradável. Dois dias antes, tínhamos ido ao supermercado comprar coisas para o laboratório dela. Eu disse para ela voltar mais vezes, e ela respondeu, de brincadeira, que só voltaria se tivesse uma mandioca melhor. Havia fritado aquelas tirinhas, que vêm congeladas em pacote, mas ficaram duras.
Percebeu algo diferente?
Nada. Estava feliz porque foi escolhida como professora homenageada por uma turma de formandos. Estava cheia de planos com a reforma do laboratório. Havia ganhado um espaço maior e reformulou tudo, a disposição da sala, das divisórias, das bancadas de trabalho. Mobilizou toda a equipe e todos ajudaram.
Demonstrou preocupação?
Nenhuma. Ela saiu rindo da minha casa, mandando beijos, abanando.
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O que você acha que pode ter ocorrido?
Acho que ela foi levada de casa por alguém muito covarde. Alguém que esperava ela lá dentro de casa ou um conhecido que a atraiu para fora de casa.
Ela ficaria sem falar com a família?
Jamais. Ela mora com o filho. A mãe, o irmão e um sobrinho são vizinhos de porta dela, no mesmo terreno. A Cláudia, podemos dizer, era a chefe da família.
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Quais os receios dela com a segurança?
Sempre evitou andar sozinha a pé. Não ia nem na padaria sem o carro. No campus, ia ao banco ou ao restaurante universitário sempre com alguém. Tinha medo de andar desacompanhada. Chegava em casa sempre olhando para todos os lados. Por isso, acho muito difícil ela se encontrar com alguém que não fosse conhecido.
Você tem esperança de que ela seja encontrada?
A chance de ela estar viva diminui conforme os dias se passam. Por isso, a nossa angústia. Precisamos confiar no trabalho da polícia, exigir que o trabalho seja da melhor forma possível. A gente tem esperança que ela vai ser encontrada viva.
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Os últimos passos
- Por volta das 18h, a professora Cláudia Pinho Hartleben, 47 anos, deixa o campus da UFPel em Capão do Leão, e volta com sua caminhonete Mitsubishi ASX para Pelotas, cidade vizinha, onde mora com a família.
- Voluntária do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo, ela visita três casas de pessoas doentes, orando pela saúde delas.
- Às 20h, a professora chega à casa da amiga Eliza Komninou, 34 anos, na zona norte da cidade. As duas conversam por mais de duas horas. Cláudia não demonstra preocupações.
- Perto das 22h30min, a professora se dirige para casa, no bairro Três Vendas. Às 22h43min, telefona para o marido, que está em Porto Alegre a negócios. O diálogo é normal, dura 14 segundos.
- Cláudia está no trânsito, na Avenida Dom Joaquim, a cinco minutos de casa, na Avenida Fernando Osório. Mas somente quase uma hora depois, por volta das 23h30min, é que a caminhonete dela chega à garagem. O irmão da professora, que mora com a mãe na casa ao lado, escuta barulho do motor.
- Cláudia entra em casa sem ser vista pelo filho de 21 anos que está dormindo, troca de roupa e desaparece. Somem também a bolsa com documentos, cartões e o celular.
As dúvidas do caso
1. Por que Cláudia demorou quase uma hora para chegar em casa se, ao ligar para o marido, estava distante apenas cinco minutos de onde mora?
2. Se Cláudia foi atacada por alguém dentro de casa, como essa pessoa entrou, já que não há sinais de arrombamento, de desordem e de nem de luta corporal, e não teria chamado atenção dos quatro cães dela?
3. Se a professora foi vítima de um assaltante, por que o bandido não levou pertences dela como pulseiras, anéis e um computador que estavam sobre uma cômoda?
4. Se Cláudia foi sequestrada, por que não há pedido de resgate?
5. Mesmo com oferta de recompensa de R$ 10 mil pelo paradeiro da professora, por que não surgem informações?
6. Se o bandido pegou documentos e cartões de banco de Cláudia, por que ele não tentou sacar dinheiro da conta dela?
*De Pelotas