O motorista de transporte escolar, Alcimar Sutil, de 31 anos, morreu protegendo os dois filhos durante o tornado que atingiu Xanxerê, no Oeste de SC, durante a tarde desta segunda-feira. De acordo com relatos de vizinhos, ele foi encontrado com o corpo por cima do filho Gabriel, de oito anos, e da filha Ana, de cinco meses. Pela manhã, amigos da família tentavam revirar os escombros para encontrar documentos e algumas roupas para a bebê.
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Gabriel foi levado para o Hospital Regional do Oeste, em Chapecó, e segue em estado grave. Ana está no Hospital São Paulo, de Xanxerê, com a mãe Cristiane Sutil. Ela não estava em casa na hora do tornado. A sogra Ivanir Ferreira da Luz também está internada em Xanxerê.
Das duas casas em que moravam, sobrou apenas parte de uma parede da garagem e a churrasqueira. É o único ponto onde é possível identificar que havia uma residência naquele local. Em um raio de mais de 30 metros encontra-se pedaços de madeira de várias casas, pratos, sapatos, roupas e colchões que se misturavam.
Amigos relataram que o maior desejo de Alcimar era concluir a casa própria. Ele havia feito um "puxado" próximo à residência da mãe com o objetivo de, no futuro, construir um imóvel para morar com a família.
- Ele morreu sem conseguir realizar o sonho - lamentou um amigo.
Segunda vítima trabalhava em uma obra
Duas mortes em decorrência do tornado no Oeste de SC foram confirmadas até o momento. Além de Alcemar, um segundo homem - Deonir Comin, de 48 anos - teria morrido enquanto trabalhava em uma obra, que desabou.
Até a manhã desta terça-feira, ao menos 120 pessoas haviam sido encaminhadas para centros de saúde de cidades de região, sendo três com bastante gravidade. Outras três pessoas sofreram amputações.
Dados atualizados pela Defesa Civil mostram que, até esse momento, 600 pessoas foram atendidas com lonas e materiais de emergência.
Segundo a Defesa Civil, o tornado - que pode ter atingido 200 km/h - alcançou uma área aproximada de 250 quadras em Xanxerê. Estima-se que foram 2,5 mil casas afetadas pelo temporal.
Serviços de emergência de Xanxerê estão concentrados no quartel dos bombeiros. Entretanto, dificuldades são encontradas até pela corporação: nesta segunda, por exemplo, os próprios bombeiros ficaram mais de quatro horas sem comunicação por rádio ou telefone. 60 bombeiros foram deslocados de cidades do Estado para auxiliar nas operações.
O Exército também deve atuar no apoio aos moradores de Xanxerê. A Defesa Civil de SC solicitou a presença de 100 militares e 10 caminhões.
Cenário de destruição em pelo menos seis bairros
As ruas de Xanxerê estão tomadas por fios das redes elétrica e telefônica. Árvores caíram no pátio das casas. O chão está repleto de telhas quebradas e zinco retorcido. O telhado do Ginásio Municipal Ivo Sguissardi ficou todo retorcido. Havia crianças no local, mas ninguém ficou ferido.
Entre os bairros mais atingidos estão Pinheiros, Primo Tacca, Bortolon, Esportes, São Jorge e Collato.
A casa de Juraci Ferreira se partiu em dois: a sala e alguns quartos foram parar no meio da rua, a 20 metros do restante da moradia. Sobrou um pedaço do banheiro e a garagem, que também estão parcialmente destruídos. A chaminé da churrasqueira ameaça cair sobre quem chegar perto.
- Sorte que ela estava na tia e minha mulher estava comigo - afirmou Juraci, que tinha ido para Lajeado Grande buscar uma carga de bois.
Alguns também estão sendo transferidos para hospitais de cidades vizinhas, como Xaxim e Faxinal dos Guedes. Os Bombeiros também receberam reforços de outras cidades da região como Chapecó. Há uma força-tarefa para conseguir lonas, agasalhos e até geradores para as unidades de saúde, já que não há energia.