A que a senhora atribui ter se tornado alvo de tantos ataques na internet?
Essa é uma situação bem difícil. Certamente é pelo trabalho nos direitos humanos, que há muitos anos sofrem uma campanha difamatória. O que acontece é que tu entras em choque com preconceitos. A questão da diversidade sexual é um dos motivos pelo qual a intolerância é grande. O ódio que existe e que motiva a homofobia me é dirigido por ser autora de projetos nesse plano. Recebo uma agressividade que é destinada aos homossexuais, às pessoas negras, aos adolescentes. A agressividade contra essas pessoas vem para mim. É um enfrentamento ao que eu represento. Represento, no âmbito do meu mandato ou no trabalho que realizei como ministra, a liberdade de expressão e a defesa de direitos humanos no país. Não só eu, mas sou uma das pessoas.
A senhora é sempre apontada como "defensora de bandidos". Como vê isso?
Isso tem uma origem no enfrentamento ao abuso de autoridade contra quem está detido ou contra qualquer pessoa. Os defensores de direitos humanos, e me coloco assim, são também defensores do indivíduo contra o Estado. Muitas autoridades, ao longo do tempo, acabaram identificando como se nós estivéssemos ao lado da ação criminosa, o que não é verdade. Colocar-se contra o abuso de autoridade não é referendar a ação criminosa.
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Foi quando a senhora se tornou ministra dos Direitos Humanos que os ataques cresceram?
Ali se multiplicou. Se ocupasse a mesma função e não fizesse nada, não haveria oposição. Mas enfrentei os setores conservadores defendendo a Comissão da Verdade, procurando mortos e desaparecidos, enfrentei a banda podre da polícia em muitas partes do Brasil, denunciando grupos de extermínio, e enfrentei setores que promovem o ódio aos homossexuais, além de grupos criminosos que traficam crianças, que atacam comunidades indígenas para roubar suas terras. Realmente fiz o meu trabalho. Quem quer trabalhar com direitos humanos tem de saber que vai expor seu rosto na defesa de quem não tem rosto, sua voz na defesa de quem não tem voz.
Pessoalmente, é difícil lidar com os ataques?
É muito difícil pela família. Nunca pensei que fosse ser tão difícil. Já houve ataques à minha filha. É a única parte que me faz sofrer. Realmente não consigo mais protegê-la do tamanho que isso ficou. Isso me dá uma dor muito grande, como mãe. Procuro apoiá-la. Mas é um apoio difícil. Não gostaria que ela pagasse um preço por opções e ideias que não necessariamente serão as dela.