A declaração do governo americano de que a Venezuela é uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos despertou uma onda de manifestações de aliados do presidente Nicolás Maduro contra o que classificaram de "agressão" de Washington.
Em Havana, o governo do ditador Raúl Castro divulgou nota na qual garante seu "incondicional apoio" a Maduro e classifica as sanções a Caracas como medida "arbitrária e agressiva", que "soa pouco crível e desnuda os objetivos dos que a fazem". O texto é assinado pelo Governo Revolucionário da República de Cuba, denominação utilizada pela última vez há dois anos, diante da morte do presidente venezuelano Hugo Chávez.
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Afastado do poder desde 2006 por razões de saúde, Fidel Castro enviou uma breve mensagem a Maduro. "Eu felicito você por seu brilhante e corajoso discurso frente aos planos brutais do governo dos Estados Unidos. Suas palavras entrarão para a História como prova de que a humanidade pode e deve conhecer a verdade", escreveu o líder cubano.
Também em Havana, os embaixadores dos países da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) manifestaram apoio à Venezuela "diante da política agressiva" dos Estados Unidos. O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou em sua página no Facebook que as medidas americanas "devem ser uma brincadeira de mau gosto, que nos lembram das horas mais escuras de nossa América".
Em comunicado, o Itamaraty disse que o grupo de chanceleres da Unasul, em visita a Caracas na sexta-feira, alertou governo e oposição de que serão inadmissíveis ações que quebrem a "normalidade institucional democrática" do país. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, fez parte da comissão.
O passo a passo da crise
A morte do líder
- O presidente venezuelano Hugo Chávez morreu em março de 2013, de câncer. Em abril, foram realizadas eleições, vencidas pelo sucessor ungido por Chávez, Nicolás Maduro, por uma diferença apertada de 223 mil votos.
Ataques à oposição
- Com maioria na Assembleia Nacional e controle das forças armadas, Maduro recorreu à chamada Lei Habilitante no final de 2013. Esse instrumento permitiulhe governar por decreto durante seis semanas.
Os protestos
- Assolada pela crise econômica global e pela queda histórica do preço do petróleo, a Venezuela enfrenta desde o ano passado uma combinação de inflação alta, desabastecimento e violência. De fevereiro a maio, protestos e repressão policial deixaram 43 mortos. Oposicionistas foram presos, entre eles o líder Leopoldo López.
Repressão e reação
- Com o recrudescimento da crise, Maduro passou a acusar a oposição de tramar um golpe para derrubá-lo. No dia 20 de fevereiro, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma (acima), foi detido em seu escritório, acusado de preparar uma insurreição. Na segunda-feira, os EUA anunciaram uma nova rodada de sanções contra a Venezuela.
Presidente pede poderes de exceção
No dia em que os Estados Unidos declararam que a Venezuela é ameaça à segurança nacional, o presidente Nicolás Maduro pediu à Assembleia Nacional um novo período da chamada Lei Habilitante, que lhe permite governar por decreto.
Em discurso na noite de segunda-feira, Maduro justificou a medida como forma de "defender a paz, a soberania, a tranquilidade e a integridade de nossa pátria" frente a ameaça estrangeira.
- Uma lei anti-imperialista para nos preparar para todos os cenários, para ganhar e triunfar com a paz em todos eles - disse.
O presidente venezuelano justificou a atitude em razão do que qualificou como "agressão dos Estados Unidos":
- Recomendações para preservar a paz, a soberania, para denunciar política e diplomaticamente em todas as instâncias esta agressão dos Estados Unidos.
Maduro não forneceu, porém, mais detalhes sobre o projeto, como a vigência da Lei Habilitante. A previsão é que a medida que lhe dá poder de governar sem decreto e interferência seja aprovada, com os votos da maioria chavista na Assembleia Nacional.
No mesmo discurso, ele criticou os EUA por pedir a libertação de opositores como Leopoldo López, acusado pelo governo de fomentar a violência nos protestos que deixaram 43 mortos entre fevereiro e maio do ano passado.
Para Maduro, o presidente dos EUA, Barack Obama, agora se dedica pessoalmente a derrubá-lo, representando a "elite imperialista" dos EUA. Maduro ainda o comparou a Richard Nixon, que promoveu a escalada na guerra do Vietnã, e a George W. Bush, que deu início às invasões do Afeganistão e do Iraque.