Nunca antes neste país um jornalista foi tão imitado quanto Paulo Francis. Alguns acharam que poderiam copiá-lo adotando posições extremadas à direita, como se assim, só pelo reacionarismo, fossem incorporar seu talento.
A maioria surge e some. Dois imitadores bem conhecidos apresentaram seus números e foram morar na Europa. Sobra em todos um direitismo caricatural que ofende a memória de Francis.
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Os imitadores, para que tenham alguma utilidade, deveriam engajar-se num esforço corporativo (daria para juntar uns 10 imitadores) e esclarecer onde foi parar o elo perdido dos rolos na Petrobras. Francis sabia e morreu em 1997 com esse elo.
Se há mesmo compromisso com a memória de Francis, os imitadores devem tentar descobrir quem é o homem que municiou o jornalista com a informação de que roubavam na Petrobras.
Quem abasteceu Francis, o incitou a denunciar o roubo em comentário na TV e depois o abandonou? Os imitadores poderiam pagar simbolicamente os direitos autorais a Francis, pela farsa da imitação, ao tentar descobrir quem é esse homem.
Uma pista: o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, que já dedou todo mundo, delatando inclusive a propinagem para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Apareceu só agora uma informação que Barusco deu em novembro aos investigadores da Operação Lava-Jato. Ele contou que recebia propinas mensais de empreiteiros da Petrobras desde 1997.
O Jornal Nacional deu essa notícia com destaque, na sexta-feira. No sábado, o ex-presidente Fernando Henrique disse em nota que as propinas, se existiram, seriam resultado de "acordo direto" entre Barusco e as empresas.
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De qualquer forma, se o governo sabia ou não, as propinas começaram a ser chocadas em tempos de ninhos tucanos. Barusco é o mais falante dos delatores. Imitadores de Francis, que tudo investigam e tudo sabem, devem procurar os advogados do ex-gerente.
Prestem uma homenagem a Francis mostrando como as empreiteiras começaram a se apropriar da Petrobras, se é que isso interessa à ética e à memória.
E depois, para que não fiquem repetitivos, procurem fazer imitações em outras áreas. Imitem Mazzaropi, Grande Otelo, Oscarito, Cantinflas, Seu Madruga. Tentem ao menos fazer graça. Deixem Paulo Francis em paz.
Opinião
Moisés Mendes: o elo Francis
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Moisés Mendes
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