Pensar em alternativas cicloviárias para as cidades. É este o objetivo do Fórum Mundial da Bicicleta, criado em 2012 por um grupo de voluntários para lembrar o atropelamento de um grupo de ciclistas em Porto Alegre ocorrido um ano antes. Agora, especialistas e cicloativistas voltam a debater o incentivo à bicicleta como meio de transporte, mas desta vez fora do Brasil.
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Diferentemente dos anos anteriores, quando os encontros foram em Porto Alegre e Curitiba, esta edição será em Medellín, no Noroeste da Colômbia, entre os dias hoje e domingo. A cidade foi escolhida por ter um forte movimento em favor da bicicleta e por oferecer às pessoas opções de transporte de alta qualidade.
Com mais de 1,3 milhão de veículos e a maior parte da população morando em morros, Medellín mudou a maneira de pensar o transporte público após integrá-lo com teleféricos e 500 bicicletas espalhadas por 23 pontos da cidade. Ao descer do metrô ou do ônibus, moradores podem continuar o trajeto por uma hora sobre duas rodas e de graça, programa chamado de Encicla.
Atualmente são mais de 13,5 mil usuários cadastrados. As bicicletas são equipadas com capacete e cestinha e, durante o evento, participantes também poderão usá-las.
- Queremos que moradores deixem o carro em casa e usem cada vez mais o transporte público, incluindo as bicicletas. O nosso plano de mobilidade urbana é focado em um transporte público sustentável que será desenvolvido a longo prazo, até 2030 - explica o secretário de Desenvolvimento Econômico de Medellín, Tomás Meia Sierra.
A cidade possui 50 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas nas principais vias que ligam o Norte ao Sul, o Leste ao Oeste, mas a meta é chegar a 200 quilômetros. Para o diretor do fórum e doutor em Mobilidade Sustentável, Carlos Cadena Gaitán, a cidade foi escolhida por apostar na bicicleta como verdadeiro meio de transporte, mesmo com uma pequena malha cicloviária.
Segundo ele, o poder público tem de começar a oferecer incentivos aos moradores:
- Medellín, finalmente, começa a se mover fortemente a favor da bicicleta. É evidente que o advento do fórum para a nossa cidade exige que todas as partes interessadas tenham uma resposta a esse movimento. O poder dos cidadãos é real e mostra resultados positivos.
Durante o evento, 150 palestrantes apresentarão trabalhos relacionados à mobilidade, urbanismo e ações do cicloativismo. Entre eles estão Sandro e Mário Bazan, casal radicado em Balneário Camboriú e que vai lançar o curta-metragem É Verde, É Mar, É Pedalar. O filme mostra o Circuito de Cicloturismo Costa Verde & Mar e inclui 11 municípios na visão de cicloturistas.
A blumenauense Sheila Hempkemeyer também estará presente e vai dividir uma casa com outros brasileiros que estarão no evento. Ela pretende em um workshop dialogar sobre pedalar como filosofia de vida, tema da tese de mestrado em Educação que faz na Universidade Federal de Santa Catarina:
- Estou indo aberta para qualquer tipo de experiência. O fórum é muito diversificado e quero escutar as histórias dos ciclistas e das experiências deles com a bicicleta e os espaços urbanos, para que cidades elejam seu planejamento as pessoas como preferência.
Medellín, uma cidade para todos
Debaixo das ruas arborizadas da Carrera 43-A, em Medellín, crianças dão as primeiras pedaladas. Ao lado, os pais incentivam com um empurrão nas costas ou uma pausa para um suco de mandarina. Uma pista é fechada aos domingos para moradores e turistas viverem a cidade, que tem 2,7 milhões de habitantes e um trânsito caótico. Ao menos uma vez por semana eles podem aproveitar a área urbana como espaço de lazer. Ao longo do trajeto, instrutores auxiliam ciclistas e pedestres a atravessar a rua e informam sobre as opções para o tempo livre. A rota de lazer foi apenas uma das iniciativas do município para fomentar o uso do transporte sustentável.
Na última década, Medellín se reinventou e criou novos espaços públicos, espalhados em 25 parques e 11 passeios urbanos. Com um passado marcado pelo alto número de homicídios e pelo cartel do narcotraficante Pablo Escobar, foi por meio da integração urbana que Medellín transformou subúrbios pobres em áreas com novas escolas, parques, bibliotecas e museus. Resultado disso são os dois teleféricos (metrocables) que levam moradores das encostas ao metrô e à região central. Um exemplo é a Linha Acevedo/ Santo Domingo, em que o turista pode tranquilamente subir e observar a cidade do alto.
É nesta comunidade que fica um dos ícones da arquitetura moderna e da inclusão projetada pelo arquiteto Giancarlo Mazzanti, a Biblioteca Praça Espanha, onde moradores têm acesso todos os dias a livros e à internet em três edifícios de sete andares.
- A mudança foi decorrente de uma conversão social através da educação, desenvolvimento urbano, mobilidade, oportunidades de trabalho, diminuição de homicídios e incentivo ao turismo - explica o secretário de Desenvolvimento Econômico de Medellín, Tomás Mejía Sierra.