A suposta matança de 2 mil pessoas num ataque da milícia islâmica Boko Haram ao vilarejo de Baga, nordeste da Nigéria, provocou comoção mundo afora. A inexistência de relatos de primeira mão - até 13 de janeiro, nenhum repórter havia conseguido chegar à cidade à margem do Lago Chade - e a coincidência com o auge do impacto dos atentados na França contribuíram para criar um clamor sintetizado num título do jornal britânico The Guardian: "Por que o Mundo Ignora os Ataques do Boko Haram em Baga?".
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No Brasil, foi grande o número de usuários de redes sociais e blogueiros que utilizou o episódio em favor da absurda tese de que, para os jornalistas, 2 mil mortes em Baga valeriam menos do que 17 em Paris. Ontem, o governo da Nigéria considerou as estimativas iniciais de vítimas como "especulação e conjectura" e "exageradas". Teriam havido, no máximo, 150 mortes em razão dos ataques, mas muitas seriam dos próprios guerrilheiros. Zero Hora, aliás, foi o único dos grandes jornais brasileiros a registrar a ofensiva na edição de 5 de janeiro.
Se confirmadas, as dezenas de mortos na Nigéria constituem um verdadeiro massacre. A ausência de repórteres e de fotógrafos no terreno capazes de checar informações e estabelecer o que aconteceu é lamentável. Mas nada disso deve servir para obnubilar a importância dos atentados na França. Poucos acontecimentos, neste século que já vai adiantado, merecem tanto ser definidos como notícia.
Alertado por leitor atento, Olhar Global se corrige: Charles Martel, guerreiro franco medieval que derrotou os exércitos árabes no século 8, não era rei, diferentemente do publicado no dia 9. O patriarca da dinastia carolíngia era intendente do palácio, cargo de alta importância, mas sempre teve o cuidado de não se sagrar soberano. Gravuras, estátuas e efígies mortuárias representam-no com a cabeça coroada.