A última homenagem do dia ao surfista Ricardo dos Santos foi realizada nesta quarta-feira, pontualmente às 18h, no Rio da Madre, na Guarda do Embaú. Meia hora antes já era grande o vaivém de surfistas carregando pranchas e equipamentos fotográficos para a cerimônia feita ao estilo havaiano - com todos dentro dágua, de mãos dadas, formando um círculo. Cerca de 300 pessoas participaram da homenagem.
O catarinense Flávio "Teco" Padaratz e o paulista Adriano de Souza, integrante do Circuito Mundial de Surfe profissional, ajudaram a organizar os participantes. Quem não tinha prancha acompanhou a homenagem de dentro de um dos barcos que fazem a travessia do rio até a beira da praia.
Com todos de mãos dadas formando um grande círculo que circundava o rio praticamente de margem a margem, rezaram um Pai Nosso e uma Ave-Maria. Flores foram colocadas na água. Gritos de "justiça". Choro e muita emoção. Não houve um líder, alguém que conduzisse a cerimônia realizada dentro dágua. Mesmo assim, parecia ensaiado.
Duas pranchas de Ricardinho foram levadas ao local e erguidas no momento da oração. Depois, todos os surfistas atravessaram o rio em direção ao mar. Era o momento da despedida final.
Paraíso de luto
Mas o mar na Guarda do Embaú, como em todo o dia desta quarta-feira, estava com ondas fortes e balançadas pelo vento Sul que soprava. O mar que Ricardo dos Santos tanto amava, pareceria também querer demonstrar sua revolta com o assassinato do atleta catarinense. :: Morre o surfista catarinense Ricardo dos Santos
O campeão mundial de surfe, Gabriel Medina, não esteve na Guarda do Embaú, mas homenageou o amigo fazendo um círculo de oração por Ricardo dos Santos. Ele publicou a foto no Instagram:
Crime em Palhoça
Ricardinho foi baleado na segunda-feira, depois de uma discussão com um policial. Levado ao Hospital Regional de São José, depois de 30 horas e quatro cirurgias não resistiu e morreu no início da tarde desta terça-feira. O policial e a testemunha que estava com o surfista contam diferentes versões para o motivo dos três disparos. O primeiro alega legítima defesa e a segunda diz que a ação foi sem justificativa. A Polícia Civil investiga o caso.
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A morte do surfista causou grande comoção na Guarda do Embaú, onde ele morava. A notícia repercutiu também no meio do surfe e uma série de profissionais do esporte como o atual campeão mundial Gabriel Medina se manifestaram sobre o caso.
Pela manhã, durante a missa e à tarde, no sepultamento realizado no cemitério de Paulo Lopes, a indignação dos moradores da Guarda do Embaú era externada em críticas ao poder público. Antes da cerimônia no Rio da Madre, Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, publicou em uma rede social uma nota em que manifestava pesar pela morte do surfista e reafirmava o compromisso em investigar o caso responsabilizar os criminosos. A postagem repercutiu bem entre surfistas e moradores da região, com mais de 7,9 mil curtidas até o início da noite de ontem.
Em um dia em que a Guarda do Embaú amanheceu com vento forte, chuva e frio em pleno verão, o entardecer teve a promessa de uma manhã melhor. Que a esperança de dias melhores não seja vã.