Era apenas por meio de mensagens no celular que o montador de andaimes Luis Carlos Rodrigues Pereira, 30 anos, morador da Vila Almacil, em Charqueadas, vinha recebendo, há três semanas, informações da Iesa Óleo e Gás, fabricante de módulos para plataformas de petróleo, na qual trabalha há oito meses.
No final da tarde desta quinta-feira, a empresa enviou mais um comunicado aos trabalhadores: este informando das demissões em Charqueadas. A rescisão será na segunda-feira, quando todos os funcionários voltariam ao trabalho após a liberação temporária. São cerca de 800 operários e outros 300 que trabalhavam na parte administrativa da unidade.
- Não aguento mais esta agonia. Só espero receber os meus direitos depois de tanta pressão psicológica - diz.
Com o rompimento do contrato firmado entre Petrobras e Iesa no valor de US$ 800 milhões (cerca de R$ 2 bi), os funcionários e o sindicato da categoria se preparam para a retirada da empresa da região. A Iesa está sendo investigada na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Segundo o presidente do Sindimetal de Charqueadas, Jorge Luis Silveira de Carvalho, a informação repassada por representantes da Iesa ao jurídico do sindicato é de que todos os funcionários terão pagos os direitos trabalhistas. Nesta sexta-feira, o sindicato terá uma reunião com os trabalhadores da Iesa, às 14h, na própria entidade.
- É desumano o que estão fazendo com estes trabalhadores. Cerca de 40% deles vieram de outros estados e trouxeram as famílias. Como ficará toda esta gente? Além de exigir na Justiça todos os direitos destes funcionários, entraremos com uma ação coletiva por danos morais. Ainda exigiremos custo de deslocamento das famílias que quiserem retornar para suas terras. Esta empresa não vai chegar aqui, aprontar e ir embora - garante Jorge Luis.
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"Nunca vivi uma situação destas"
Entre as famílias que atravessaram quilômetros em busca de trabalho está a de Carlos Bezerra, de São José dos Campos (SP). Em junho, ele veio de Recife (PE), onde finalizava o trabalho em outra terceirizada da Petrobras, disposto a viver em Charqueadas. Dois meses depois, vieram a mulher e os quatro filhos - de um ano e três meses, dez, 14 e 19 anos.
- Alugamos uma casa, matriculamos os meninos na escola e já pensávamos em comprar uma casa na cidade. A ideia era ficar aqui sem previsão de voltar a São Paulo. Agora, meu prazo é janeiro de 2015, quando terminam as aulas das crianças - conta.
Há dez anos percorrendo o Brasil para trabalhar em grandes obras, Carlos conheceu 11 estados.
- Nunca vivi uma situação destas. Vou ter de pedir ajuda para pagar o frete da mudança de volta para São Paulo, ainda estou pagando a mudança da vinda. Estou orando a Deus para que tudo dê certo
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"Preciso me virar"
Na casa de Luis Carlos é a mulher Carla Oliveira Moraes, 31 anos, quem dá forças para o montador de andaimes manter a calma. Temendo atrasar as contas, Luis tem feito bicos como garçom e segurança.
- Em pleno final de ano, quando todas as contas chegam, eu não sei se vou receber - desabafa Luis Carlos.
O mecânico montador da Iesa Edson Oliveira Moraes, 42 anos, irmão de Carla, também optou por trabalhos temporários na construção civil até saber como ficará sua situação.
- Os credores não querem saber. Preciso me virar para manter o sustento da minha mulher e dos meus dois filhos.
Iesa comunica demissões
A empresa pede aos funcionários para não irem até a fábrica na segunda-feira, avisando que não haverá atendimento e promete envio de correspondência até terça-feira para os trâmites da demissão. Até a tarde de quinta-feira, o Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas ainda não havia sido comunicado pela empresa.
A Iesa acrescenta que as demissões foram provocadas pela rescisão de contrato informada pela Petrobras na segunda-feira. Desde lá, os funcionários não tinham recebido sinalização ou orientação da empregadora ainda.
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