Foram exatos 27 minutos até secarem os 500 litros dos panelões da Casa da Sopa, no Bairro Restinga, em Porto Alegre, na manhã de ontem. Por falta de alimentos, os voluntários não produziram mais. E a fila de quem ainda aguardava precisou ser desfeita às pressas. No mesmo horário, no Banco de Leite Humano do Hospital Fêmina, as funcionárias precisaram escolher quais dos dez bebês receberiam o estoque final de leite que ainda restava nos freezers da instituição. Os demais seriam alimentados com fórmula especial. Em ambos os casos, a situação foi a mesma: faltaram doações.
No final do mês de julho, o Diário Gaúcho constatou que somente quatro de 14 instituições voluntárias que ofertavam almoço para os carentes na Capital e na Região Metropolitana seguiam atuantes. Por falta de doadores de alimentos, as demais acabaram fechando nos últimos 12 meses. Não há dados que confirmem se as doações em geral diminuíram, o certo é que quem atua em entidades e órgãos da área relata a diminuição da solidariedade alheia.
- Poderíamos atender muitas outras famílias. Mas de uns tempos para cá, as doações espontâneas diminuíram. Parece que as pessoas deixaram de acreditar que ao ajudar o próximo estará ajudando o mundo - constata o microempresário Rogério Fraga da Silva, 54 anos, que há seis anos, nas terças e quartas-feiras, se dedica a preparar o sopão dos necessitados da Tinga.
A mesma observação faz a dona de casa Maria Elaine da Silva, 55 anos, que há 16 anos oferece 120 litros de sopa a crianças e adultos carentes da Vila Americana, em Alvorada. Sem doadores, ela deixou de fazer o sopão nas quartas-feiras.
- Já pensei em parar porque as contribuições diminuíram. Tem semanas que preciso tirar do próprio bolso. Parece que as pessoas deixaram de acreditar nas obras sociais - suspeita.
Doações e voluntariado
À procura da solidariedade
Ongs e entidades assistenciais observam a queda de doadores e do envolvimento da população.
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