Pela primeira vez em mais de duas décadas, Guaíba está sem rodoviária. E, se depender da prefeitura, se ela voltar a funcionar na cidade terá que ficar bem longe da área central. Há dois meses, com o fim da concessão do prédio às margens do lago, no Centro, passageiros de 13 linhas intermunicipais estão feito baratas tontas, sem saber onde será o novo ponto de embarque.
A área onde antes funcionava o terminal tornou-se hidroviária, sob gerenciamento da Catsul, e só atende aos passageiros do catamarã. Chova ou faça sol, os passageiros dos ônibus são obrigados a aguardar na rua. Na parte interna da hidroviária, cartazes indicam que os banheiros só podem ser utilizados por passageiros do catamarã e que as passagens intermunicipais devem ser compradas diretamente nos ônibus. Até os bancos da área de compras de passagens, que eram utilizados pelos usuários dos ônibus, foram retirados.
Conforme o assessor do gabinete da prefeitura, Beto Scalco, o alvará de uma nova rodoviária só será liberado ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) se o prédio for próximo à BR-116, na entrada de Guaíba, distante cerca de 5km do Centro.
- O crescimento urbano de Guaíba levou a administração municipal a regular a circulação diária de veículos pesados no Centro da cidade. Por isso, não queremos mais uma rodoviária dentro de Guaíba. Nas grandes cidades, já funciona desta forma - justifica.
Não tem banheiro
Para quem está acostumado a embarcar no Centro de Guaíba, a decisão da prefeitura é polêmica. Usuário há três anos da linha Barra do Ribeiro-Guaíba, o escriturário João Ramos, 36 anos, que trabalha num banco na área central, surpreendeu-se com o fim da rodoviária.
- Trabalho próximo do terminal. Se, por acaso, mudarem a rodoviária de lugar, terei que pegar mais um transporte e corro o risco de perder o horário do meu ônibus. Ficará horrível - reclama.
Outro problema enfrentado por quem depende da extinta rodoviária é a falta de estrutura para esperar os ônibus. A servente de limpeza Chusiani Forte, 37 anos, também de Barra do Ribeiro, utiliza a linha todos os dias e fala das dificuldades.
- Quem mais sofre são as crianças e os idosos, pois não podemos mais usar os banheiros da hidroviária e nem nos abrigarmos em dias de chuva. Os passageiros ficam amontoados do lado do prédio, tentando se proteger. Situação constrangedora - desabafa.
Segundo o coordenador de operação da Catsul, Aurélio Vieiro, quando se encerrou a concessão da rodoviária a empresa fez as mudanças que considerou necessárias.
- Os usuários do catamarã reclamavam que os moradores de rua utilizavam os banheiros e os deixavam com cheiro ruim. Por isso, deixamos a área apenas para quem usará os serviços da hidroviária - explica.
Daer está em tratativas
De acordo com o superintendente de terminais rodoviários do Daer, Ricardo Nuñez, houve uma nova licitação para a rodoviária de Guaíba, mas não surgiram interessados. Ricardo afirma que o Daer está em tratativas com a prefeitura para estabelecer um novo local para embarque e desembarque dos passageiros.
- A própria prefeitura não tem mais interesse que os veículos de nossas linhas circulem pela área urbana do município e, para acessar aquele terminal, é necessário cruzar toda a cidade - reforça.
"Virou uma bagunça"
Enquanto a situação não se resolve, os ônibus seguem parando em frente à hidroviária. A única indicação de que ali segue como área de embarque é uma placa de ônibus disputada por todos os passageiros das diferentes linhas. A maior parte dos usuários são trabalhadores que residem nas cidades da região. Nos primeiros dias do mês, as filas aumentam com os aposentados que costumam receber em agências bancárias de Guaíba e aproveitam para fazer compras na cidade.
- Nos horários de pico, ficam todos os passageiros juntos, sem organização, porque a passagem agora é comprada na hora. Quando chove, dá correria para ver quem entra primeiro. Virou uma bagunça - resume o escriturário João.
Sumiu
Rodoviária de Guaíba deixa de receber ônibus e vira hidroviária
Passageiros das 13 linhas intermunicipais que circulam pelo Centro de Guaíba ficaram sem o prédio que abrigava o terminal. Prefeitura não quer mais embarque na área central
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