Veja no mapa onde ocorreu o conflito:
A cidade agrícola de Faxinalzinho, no norte do Estado, está com as estradas isoladas do resto do país. Índios caingangues bloquearam os principais acessos à município com toras de madeira. Comércio e escolas estão funcionando parcialmente.
No final da manhã, a comunidade ergueu na praça uma faixa com os dizeres "Faxinalzinho está em luto". O prefeito da cidade, Selso Pelin, recomendou que as pessoas ficassem em casa.
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A tensão na cidade cresceu na segunda-feira à noite quando dois irmãos, os agricultores Alcemar Batista de Souza, 41 anos, e Anderson de Souza, 26 anos, foram mortos a tiros e a pauladas ao tentarem furar o bloqueio.
Três agentes da Polícia Federal (PF) estão na cidade fazendo um levantamento da situação.
- Estamos levantando informações para termos um quadro claro do que está acontecendo - disse o agente Paulo Ricardo Xavier, um dos policiais federais mais experientes em assuntos indígenas no RS.
Eles conversaram com o sargento da Brigada Militar (BM) Valdecir Golsetto que disse que, conforme a situação situação evoluísse, tropas da Brigada que estão acantonadas em cidade vizinhas podem rumar para Faxinalzinho.
Ido Antonio Marcon, presidente da associação dos moradores de Faxinalzinho, disse que os índios estão criando tensão ao pressionarem o governo federal para que desaproprie 2.734 hectares para assentar 198 famílias indígenas. Atualmente, nesta gleba, vivem 140 famílias de agricultores.
- Os índios não tem direito a esta terra - disse Marcon.
Zero Hora esteve na comunidade indígena acampada à beira de uma estrada de chão batido, que liga Faxinalzinho a Erval Grande. Os índios estão armados com lanças, facões e pedaços de pau.
O cacique Deoclides de Paula, 42 anos, disse que a morte dos agricultores ontem foi um fato isolado.
- Não há intenção da comunidade de defender seus interesses pela violência, já que o seus direitos são líquidos e certos. Ali existia a comunidade do Votoro, que foi desalojada pelo governo nos anos 40 e vendida aos agricultores brancos.
O cacique justificou o bloqueio das estradas, alegando possuir um compromisso assinado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de vir a Porto Alegre no último dia 25 para tratar das reivindicações dos índios. Como o ministro não veio, o cacique disse que a comunidade ficou revoltada e, por isso, trancou a cidade.
- Se existe alguém responsável pela morte dos agricultores, é o ministro. No momento em que ele não veio, gerou um momento de incerteza entre a comunidade - disse o cacique. - Sou da comissão nacional de política indigenista, ligado ao Ministério da Justiça. Imagine como é que eu fiquei quando o próprio ministro desonrou a sua palavra.
A família das vítimas
A comunidade de agricultores está revoltada e reunida na cidade. Muitos estão prometendo vingança. Os corpos dos irmãos que morreram ontem estão sendo necropsiados em Erechim e não podem voltar para a cidade porque os acessos seguem bloqueados.
Zero Hora falou com a irmã, Sandra Mara de Souza, e a mãe, Lebrantina Batista de Souza, dos agricultores mortos. As duas mulheres, sentadas em um sofá, estavam muito abatidas e choravam bastante. A Sandra disse que os irmãos só sabiam trabalhar e que tentavam levar ração para os porcos:
- Eu não sei o que aconteceu. Só sei que os meus manos estão mortos.
A mãe disse que sua maior preocupação no momento era conseguir trazer os corpos dos filhos para o cemitério que fica em Coxilhão Aparecida, interior de Faxinalzinho.
- Não sei se nós vamos conseguir velar os piás lá, porque os índios estão bloqueando tudo. Estou rezando para conseguir trazê-los.