Em 48 horas, o governo de Vladimir Putin ampliou suas fronteiras e ganhou quase 2 milhões de cidadãos.
Foi esse o tempo necessário para a península da Crimeia - ocupada há mais de duas semanas por tropas russas - realizar um referendo contestado internacionalmente, separar-se da Ucrânia e ser integrada com pompa pelo Kremlin como novo membro da Federação Russa.
Diante de representantes das duas câmaras do parlamento russo, governadores e membros do governo, líderes da Crimeia e o presidente da Rússia firmaram um acordo anexando a península separatista da Ucrânia à jurisdição de Moscou.
Recebido com intensos aplausos pelos deputados e senadores na Sala São Jorge, no Kremlin, Putin afirmou que a "Crimeia sempre foi e seguirá sendo" parte de seu país. A sessão foi interrompida várias vezes.
Em 47 minutos de discurso, o líder russo evocou o passado com tons nacionalistas e criticou a decisão do líder soviético Nikita Kruschev, que em 1954 entregou a Crimeia à Ucrânia.
- Nos corações e nas mentes das pessoas, a Crimeia sempre foi uma parte inseparável da Rússia - disse.
A Rússia está em crise com o país vizinho desde que o presidente ucraniano foi retirado do cargo após semanas de protestos nas ruas criticando a repressão policial e o afastamento da Ucrânia da União Europeia em troca de uma aproximação com Moscou.
A cerimônia de ontem embalou ainda fortes críticas ao Ocidente. Para Putin, EUA e União Europeia "passaram dos limites" ao apoiar o novo governo da Ucrânia. E ironizou as acusações de que a Rússia violou o direito internacional ao anexar a Crimeia:
- É bom que eles ao menos lembraram que o direito internacional existe. Antes tarde do que nunca.
Putin lembrou da independência de Kosovo, declarada em 2008 e que tem oposição russa, além da dissolução da União Soviética, em 1991. O tom duro não se repetiu ao se dirigir aos ucranianos. O líder russo negou que pretenda dividir a Ucrânia.
Em resposta, o presidente dos EUA, Barack Obama, convocou reunião do G7 para a semana que vem. Seu vice, Joe Biden, disse que a anexação foi "roubo de terra".
Ucrânia considera morte de soldado crime de guerra
Horas depois da cerimônia, um soldado ucraniano foi morto em uma base em Simferopol, capital da Crimeia, na primeira baixa militar na península desde o início da crise. A Ucrânia afirma que o oficial foi atingido no coração por um atirador de elite durante um ataque a sua unidade. Segundo o chefe da marinha da Ucrânia, Serguei Gayduk, 38 bases militares ucranianas estão cercadas pelas forças russas na Crimeia A polícia, porém, afirma que a base não foi invadida, mas alvejada por atiradores. Os homens teriam baleado também um miliciano pró-Rússia.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, acusou Moscou de cometer crime de guerra. Após o episódio, militares ucranianos foram autorizados a usar armas. Até então, vinham recebendo ordens de "não responder às provocações" das forças russas que ocupam a Crimeia.