No início de 2013, a Pata de Elefante estava com a corda toda. Comemorava 11 anos de atividades com uma agenda cheia e preparava- se para lançar seu quarto disco. De repente, no dia 21 de março, um comunicado anunciou o fim do grupo. E o tão aguardado álbum acabou engavetado. Até agora.
Gravado em 2012 e lançado no começo deste mês, Julio Rizzo e Pata de Elefante é o canto do cisne do paquiderme, uma das grandes referências da música instrumental brasileira - que, junto dos cuiabanos da Macaco Bong, provou ser possível fazer um som criativo, vibrante e ousado sem dizer uma só palavra. O reconhecimento veio em apresentações pelos maiores festivais independentes do país, prêmios nacionais - como o VMB de melhor banda instrumental, em 2009 - e shows internacionais.
Por isso, as razões para o fim repentino são, quase um ano depois, minimizadas pelo baterista Gustavo "Prego" Telles:
- Viver de música é muito complicado e desgastante por uma série de motivos. Quem é do meio sabe. Então, chegou num ponto que achamos que nossa missão já estava cumprida e seria melhor acabar a banda para que a música continuasse.
Sucessor dos elogiados Pata de Elefante (2004), Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha (2007) e Na Cidade (2010), Julio Rizzo e Pata de Elefante cumpre essa função: é um disco bem produzido e consistente, com 10 faixas que mostram a versatilidade do trio original - Prego e os guitarristas Daniel Mossmann e Gabriel Guedes - acompanhados de Edu Meirelles (baixo), Luciano Leães (teclados) e Julio Rizzo (trombone).
Nenhum dos músicos " extras", frisa- se, era uma novidade na vida e na obra da Pata, mas foi a primeira (e provavelmente última) vez que gravaram um álbum completo juntos.
- Todos eles já haviam participado de nossos discos anteriores ou estavam nos shows. Daí que foi meio natural chamá- los quando surgiu a ideia dessa formação de sexteto para o álbum - esclarece Prego.
Disco tem aquele sabor de saideira
O baterista explica que a Pata, como banda, entrou de curiosa na história - e daí o nome de Rizzo encabeçar o título do disco. Inicialmente, Prego se juntaria ao trombonista para um projeto paralelo envolvendo apenas os dois. Só que, no início de 2011, durante os ensaios para uma nova temporada de shows com Rizzo na formação, todo mundo quis participar.
- As músicas foram pensadas no trombone como um instrumento de interpretação, inclusive fazendo as vezes de voz. E como o Rizzo é um instrumentista de muita personalidade, nada mais justo do que destacar o papel dele - diz Prego, sobre o título do álbum que ganhou um belo projeto gráfico de Leo Garbin.
O baterista acredita que o disco Julio Rizzo e Pata de Elefante "encerra com chave de ouro" o ciclo da banda. Intencional ou não, o álbum apresenta, de fato, um tom de fim de festa, bem mais melancólico do que os anteriores. Mesmo faixas mais aceleradas, como a dupla de abertura Mas Será que Não Entra? e Passeando no Bom Fim, apresentam um inevitável verniz lúgubre.
Em Gypsy Jack, dá quase para visualizar a silhueta do cowboy sumindo no horizonte do poente, enquanto Pedra Fundamental seduz o ouvinte com os dois últimos dedos de gim de um cabaré esfumaçado.
Mas é em Assim me Despeço que o disco consegue seu registro mais lamentoso, do garçom vindo avisar que a cozinha está fechando e que, logo, vai ser o momento de pedir a saideira. Uma saideira que ninguém queria.
Tem, mas acabou
Pata de Elefante lança disco um ano após fim das atividades
Quarto álbum da banda, "Julio Rizzo e Pata de Elefante" tem o gosto da saideira que ninguém queria
Gustavo Brigatti
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