Em maio passado, espantado com a sequência de lesões musculares sofridas por Jean Deretti, o fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé, hoje fora do Grêmio, decidiu virar o jogador "de cabeça para baixo". Feita com calma, com a participação de todo o corpo médico do clube, a investigação apontou um problema dentário como a provável causa para tanta debilidade física.
- Extraí três dentes do siso. A partir deste momento, as lesões pararam - relata o meia, em alta com a torcida pelas boas atuações contra Juventude e Veranópolis e cotado para iniciar o Gre-Nal deste domingo, na Arena.
Com o tratamento, começava a ficar para trás um fantasma que assombrava Jean Deretti desde janeiro, época de sua chegada ao Olímpico. Trazido do Figueirense em troca de Willian Magrão, Felipe Nunes e Maylson, pegou a pré-temporada de 2013 pela metade e sofreu com a falta de uma preparação mais adequada.
- Fiquei quatro dias sem trabalhar. Isso faz uma diferença muito grande. Não tive o respaldo para aguentar o ano todo, coisa que estou tendo agora - compara.
Ainda assim, Deretti foi inscrito na lista da Libertadores e participou do jogo de volta contra a LDU, do Equador, pela fase classificatória. Daquela partida, restaram a emoção de atuar numa Arena lotada e o alívio por não precisar participar da decisão por pênaltis. Foi salvo por Marcelo Grohe, que defendeu a última cobrança adversária.
- Eu iria bater o sexto pênalti. Graças a Deus, não precisou. Ainda bem - sorri o jogador.
Bater o sexto pênalti seria um problema menor se comparado com o que viria na sequência. Em março, Deretti sofreu a primeira lesão no músculo adutor da coxa direita. Viriam ainda outras três, sempre no adutor, alternando o direito e o esquerdo. Resultado: seis meses sem jogar e um princípio de depressão, superado com a ajuda dos pais, Edegart e Tânia, que vieram à Capital reforçar o apoio emocional que a noiva Mariana já emprestava.
Nesse período, foram dois cortes da lista de convocados para a Seleção Brasileira sub-20. Além de inúmeras partidas em que não pode atuar pelo Grêmio.
- Fiquei sem jogar de março até o início do segundo turno do Brasileirão. A partir do jogo contra o Náutico, sempre fiquei à disposição - contabiliza Deretti.
É por isso que cada oportunidade recebida neste ano é encarada como se fosse a última. Deretti não esconde a ansiedade em mostrar que valeu o investimento. Mais do que isso, está consciente de que será preciso manter o nível das primeiras atuações para não frustrar a torcida.
- Eu sabia que o torcedor queria isso, um jogador de velocidade, objetivo. Meu jeito sempre foi este. Nunca gostei de fazer firula ou gracinha. Sempre parti em direção ao gol. Meu pai me cobra isso - conta.
Sonho com o primeiro gol no Gre-Nal
Voltar a ter condições de jogo foi o primeiro desafio superado por Jean Deretti em 2014. O próximo será conquistar um título. Antes, tentará marcar o primeiro gol pelo Grêmio. Esteve bem próximo disso contra o Veranópolis, mas cabeceou sem a força suficiente o cruzamento feito por Wendell e a bola parou nas mãos do goleiro.
- Fui para casa, deitei e fiquei me cobrando: faz o gol, faz o gol - diz.
No dia seguinte, deu-se conta de que o gol terá que sair com naturalidade, sem pressão. Se ocorrer no Gre-Nal deste domingo, Deretti não sabe que tipo de reação terá. Ele confessa que andou pensando muito nisso ao longo da semana.
- Seria uma felicidade indescritível - resume.
Para que as lesões fiquem de vez no passado, o meia se submete diariamente a exercícios de reforço muscular, o que o obriga a chegar ao estádio sempre antes dos demais jogadores. Sem precisar o percentual de massa adquirido, ele explica que já se sente muito mais forte do que nos primeiros meses depois da chegada ao Grêmio.
A próxima etapa será o desenvolvimento de um trabalho de reforço dos membros superiores e caixa torácica, uma deficiência já constatada pelo preparador físico Fábio Mahseredjian.
- Não será nada em excesso, é só para ganhar mais caixa, sem perder a velocidade - explica Deretti.
Com apenas 11 jogos pelo Grêmio, o meia sabe que será preciso correr contra o tempo. Apesar de tantas frustrações, não considera que 2013 tenha sido um ano perdida. Da experiência amarga, resultou um jogador mais maduro, entende Deretti.
Tudo se volta para 2014. Mas seu projeto não é apenas pessoal.
- Primeiro, será o ano do Grêmio. Depois, o do Deretti - avisa.