A primeira Rádio Gaúcha do interior do Rio Grande do Sul ainda dava seus primeiros passos quando um incêndio em uma casa noturna mudou para sempre a história de Santa Maria. Percebemos que não apenas a nossa memória, mas também de todo o Estado e País, seria afetada pela tragédia ocorrida na Região Central.
O relógio marcava exatamente 5h20 quando Paulo Rocha interrompeu a programação daquela madrugada (27 de janeiro) para um boletim. Ao contrário do que as ondas do rádio transmitiram até a meia-noite de sexta para sábado, a entrada não seria para falar sobre a escolha da rainha do Carnaval da cidade. O Centro Desportivo Municipal recebeu, até por volta das 2h30, o evento de escolha das soberanas das festas de Momo. Menos de dez horas depois, os confetes e as serpentinas foram substituídos por centenas de voluntários que faziam o possível e o impossível para ajudar na identificação dos mais de 200 corpos que foram levados ao local para reconhecimento após o incêndio na boate Kiss.
“ A nós, jornalistas, cabe a tarefa incansável de repetir esta história e tudo que remete a ela tantas vezes quantas forem necessárias para impedir que o dia 27 de janeiro de 2013 se repita”
Entre informações desencontradas e desespero de amigos e familiares, aos poucos, o sinalizador acionado no palco da casa noturna passou a delinear os contornos da maior tragédia do Estado. Logo percebi que ela nos perseguiria por muito tempo, e isso seria o curso natural das coisas, tendo em vista que não presenciáramos um acidente: tudo o que acompanhamos - até hoje, é resultado da negligência, da omissão, do descaso. Infelizmente, foi preciso pagar a conta com 242 vidas e mais de meio milhar de feridos para que percebêssemos a importância, por exemplo, de respeitar a lotação máxima de ambientes como bares e boates.
No meio de tudo isso, tiramos um grande aprendizado: o valor inenarrável da vida e a capacidade quase mitológica de ressurreição daqueles que escaparam da armadilha da rua dos Andradas. Os mais de 600 sobreviventes nos mostram que não existe a possibilidade de abatimento, mesmo quando as batalhas pareçam em vão ou quando a Justiça caminha a passos lentos: a boate Kiss não foi palco de um acidente, logo, os culpados terão de ser punidos, cedo ou tarde.
A nós, jornalistas, cabe a tarefa incansável de repetir esta história e tudo que remete a ela tantas vezes quantas forem necessárias para - no que cabe a nós - impedir que o dia 27 de janeiro de 2013 se repita e garantir que a Justiça seja feita.
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