Um dia antes, o Cléo Kuhn já havia alertado os ouvintes da Rádio Gaúcha que tinha chuva prevista para todo o Estado. No dia 11 de novembro de 2013, quando cheguei para trabalhar, às 6h, já chovia forte em Porto Alegre. Eu e os colegas Mateus Ferraz e Paulo Rocha nos dividimos e saímos para conferir a situação nas ruas da Capital. Eu fui em direção a zona norte. O cenário era de guerra e piorava conforme ia me deslocando pela região. O trânsito estava parado, diversas ruas estavam alagadas, carros e casas foram invadidos pela água, pessoas não conseguiram chegar no trabalho, muito lixo transbordou pelas ruas, enfim, a situação era caótica.
Às 6h20min entrei com a primeira informação no ar, direto do bairro Passo D’Areia que já estava com as ruas alagadas. Na Avenida Sertório havia muita água na pista e as ruas laterais tinham carros quase que cobertos pela água, que também já invadia casas e estabelecimentos. No Bairro Sarandi, o Arroio Sarandi transbordou e alagou completamente a região.
Nos deslocamos, então, em direção às vilas Asa Branca, Brasília e Elisabeth, que dois meses antes haviam sido atingidas pelo rompimento do dique do Arroio Feijó, que deixou centenas de pessoas fora de casa. Ao entrar na Vila Asa Branca, a triste constatação: a água subia muito rápido e mais uma vez estava entrando na casa das pessoas. Muitas delas já começavam a tirar alguns pertences de casa e tentavam salvar o que conseguiam. Em uma hora no local, a água já começava a bater no meu joelho, na área mais atingida chegou à minha cintura, de onde as pessoas tiveram que ser retiradas de casa de barco.
“ O fato que mais me marcou durante as dez horas que fiquei percorrendo o Sarandi foi o relato da moradora Kátia. Ela teve de sair de casa às pressas e a única coisa que conseguiu salvar foi uma caixa de isopor com algumas roupas.”
O desespero dos moradores era visível. O fato que mais me marcou durante as dez horas que fiquei percorrendo pelo Sarandi foi o relato da moradora Kátia à Rádio Gaúcha. Ela teve de sair de casa às pressas e a única coisa que conseguiu salvar foi uma caixa de isopor com algumas roupas. Entre lágrimas ela relatou que já havia perdido tudo há dois meses e que havia ganhado os móveis novos, que mais uma vez acabaram estragados. Ela precisou ficar em uma vizinha até que a água baixasse. Assim como Kátia, cerca de cem pessoas também tiveram que sair de suas casas e ir para abrigos municipais.
No outro dia, voltei ao local. O clima era de recuperação. A água ainda não havia baixado, mas alguns moradores já tentavam voltar para casa. Dentro das residências o estrago era grande, muito barro no chão, móveis estragados, e o desespero das pessoas que nem conseguiram recuperar de uma enchente e já tiveram que enfrentar outra.
Um dos grandes questionamentos dos moradores era o que havia motivado mais um alagamento na região. Muitos acreditavam que o dique havia rompido novamente. Três semanas depois, voltei para o local levando um engenheiro, o professor da UFRGS Fernando Dornelles, para identificar pontos que poderiam ter contribuído com o alagamento do dia 11. A constatação dele foi de que a falta de manutenção e o grande acumulo de lixo no canal que leva a água das vilas da região até a Casa de Bombas é que provocaram a enchente.
Confira outros fatos da retrospectiva: