Conversar com um criador de cavalo crioulo é certeza de ouvir mais vezes a palavra paixão do que referências à atividade como negócio. E mesmo que o sentimento predomine, o mercado move cerca de R$ 1,28 bilhão ao ano e gera 238 mil empregos, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). Para arcar com custos e manter as contas no azul, os proprietários buscam resultados positivos no Freio de Ouro. Mas moldar um animal campeão é demorado. E caro.
Dura seis anos, em média, o tempo de preparo de um cavalo para a competição mais importante da raça. O trabalho começa com a seleção genética, na qual se busca a combinação das melhores características dos pais, passa pela análise da morfologia do animal, em que se observam as características físicas, e inclui doma e treinamento para as provas. Uma peneira em que só os melhores exemplares recebem o investimento final dos donos.
Na Cabanha Malke, de Uruguaiana, por exemplo, são criados 50 animais por ano, mas só quatro são enviados a centros de treinamento, onde os cavalos são preparados para as provas de mangueira, Bayard-Sarmento e paleteada. Lá, os animais recebem cuidados especiais, com atenção de veterinários e alimentação planejada para o melhor desempenho nas pistas. E é nessa etapa que o gasto cresce. No período, que costuma durar até dois anos, o veterinário e administrador da Malke, Fernando Vello Filho, estima o custo anual em cerca de R$ 30 mil. Para outros cavalos mantidos na propriedade, sem perspectiva de competição, a despesa média é de R$ 6 mil.
O investimento é alto, arriscado e só tem retorno garantido em caso de bons resultados nas temporadas de participação no Freio, que não costumam ser mais de dois anos.
Além da valorização da marca das cabanhas, prestígio que se estende a outros cavalos, a venda de coberturas e de filhos desses animais premiados garante o lucro do proprietário. Segundo Vello Filho, a cobertura de animal conceituado custa em média R$ 10 mil. No remate da cabanha em abril, no Bocal de Ouro, potrancas foram vendidas por R$ 27 mil cada e os potros garantiram R$ 90 mil por cabeça.
- A maior parte dos compradores procura esses animais para competição ou reprodução. Eles buscam agregar essa genética ao seu plantel - explica Vello Filho.
Busca pela valorização
Proprietário da Cabanha Querência Colorada, Moacir Luiz Fração, não se arrepende dos recentes investimentos feitos para tentar levar ao pódio do Freio de Ouro uma de suas éguas com maior potencial. O criador de Pelotas está animado com a vitória de Harmonia Querência, montada pelo ginete Marcos Silveira, na classificatória de Brasília - a última chance de incluir uma animal na disputa.
Harmonia Querência e Silveira garantiram a participação na grande final do Freio de Ouro, no primeiro final de semana da Expointer. Somados gastos na compra e treinamento do animal, Fração estima já ter investido R$ 70 mil.
- Primeiro, ganhamos o reconhecimento da marca da cabanha. Com isso, vamos ter um retorno financeiro. Sempre tem retorno - diz.
O destino do animal após a final ainda é incerto. A intenção é fazer a égua correr mais um ciclo, mas tudo depende do resultado em Esteio.
VÍDEO: Entenda como funcionam as classificatórias para o Freio de Ouro