Como sou antigo, sempre me sobrevêm recordes de temperatura, seja de frio ou de calor.
Agora, por exemplo, estou tentado a dizer que nunca passei em minha vida inverno tão rigoroso como este.
Ontem, quando acordei pela manhã, ouvi na Rádio Gaúcha que na madrugada a temperatura tinha batido, em determinado momento, em quatro graus negativos em Porto Alegre, fato que suponho nunca tenha acontecido aqui em nossa cidade.
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Pus de plantão a minha ceroula. Minhas meias são de lã e se espicham até quase o joelho (agora chamado de patela).
Desengavetei um gorro de cossaco, pele animal pura, as abas descem pelo pescoço. Assim me apetrecho para este inverno ímpar em que cai neve sobre cidades gaúchas que nunca tinham visto este fenômeno.
Vejam como é grande este planeta, na Europa existe muita gente morrendo de calor de quase 50 graus!
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À noite, me deito tiritando de frio. Não me sinto cômodo dormindo de meias, tiro-as, mas meus pés ficam gélidos.
Enfio-me debaixo de um lençol e três cobertores e tento conciliar o sono.
Antes tomo uma caneca de chocolate com leite fervendo de quente, tenciono aquecer meu corpo para vencer mais uma noite desta jornada da luta da vida.
Pela manhã, confesso que me acovardo com uma travessia: tenho de tomar banho e a nudez me castiga com esse frio.
Sei que existe frio que nos conforta, mas este frio que está fazendo aqui no Estado me põe em pânico. Consola-me apenas que frio faz é no inverno, e estamos bem no centro desta estação. Então não adianta reclamar, e o negócio é ir em frente, na esperança da vinda preciosa da primavera.
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Esqueci-me de dizer como aqueço minha caixa torácica: ponho uma camiseta por baixo, depois uma camisa, em cima dela uma blusa de lã grossa, depois de calçadas as calças, apanho um grosso sobretudo e parto no rumo do trabalho e das consultas médicas.
Ontem, por exemplo, fui examinar a garganta com o dr. Nédio Steffen e ele, para minha surpresa, disse-me que tenho de pedir a meu dentista, Emir Selaimen, para me fazer uma "limpeza periodôntica" nas gengivas.
Não sei o que vem a ser uma limpeza periodôntica, mas ele deixou escapar entre sussurros que a tal limpeza se faz também com bicarbonato de sódio.
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Depois de limpar as gengivas, estarei quite com o inverno, só desconfio que terei de usar, a continuar intenso esse frio, um par de botas vermelhas que adquiri na Irlanda em 1973, é um par de botas usado também pelos alpinistas, forrado acho que de lã, um calçado térmico que tenho há mais de 40 anos e que parece uma caldeira a aquecer meus pés.
Com este par de botas e o meu casaco de pele de cordeiro que comprei em Nova York em 1985, não há inverno que me derrote, enfrento as ruas ou até o pampa com intrepidez de astronauta.