Em encontro com peregrinos argentinos na catedral do Rio de Janeiro, o papa Francisco pediu aos jovens que saiam as ruas e façam "lío" - termo do espanhol que pode ser traduzido por "bagunça", "confusão" ou "desordem".
A incitação ocorreu em uma região onde recentemente milhares de jovens brasileiros realizaram protestos e entraram em confronto com policiais. A agitação que o papa quer parece ser, no entanto, da Igreja.
- Façam bagunça nas dioceses. Saiam para a rua. Uma Igreja que não sai se converte em uma ONG, e uma Igreja não pode ser uma ONG - afirmou.
As palavras do papa provocaram uma ruidosa aclamação dos cinco mil argentinos que conseguiram entrar na catedral e do contigente muitas vezes maior que lotava o entorno da catedral. Estima-se que 40 mil compatriotas do pontífice estão no Rio para a Jornada Mundial da Juventude.
Dentro do templo, o estudante de Córdoba Octavio Lanús, 18 anos, não se conteve:
- Imagina ter o melhor jogador do mundo no seu time. Isso é o papa. Eu não sabia se gritava, mas quando vi gritei enlouquecido: "Grande Francisco!" Agora estou afônico.
O encontro exclusivo com os argentinos foi um pedido de última hora do papa e ocorreu no começo da tarde. Francisco falou durante 10 minutos para jovens que chegaram a aguardar 18 horas na chuva para conseguir um lugar na catedral. Para entrar, era preciso comprovar a nacionalidade.
Encontro com argentinos tem clima festivo
Durante toda a manhã, o espanhol tornou-se o idioma oficial no entorno da catedral, onde os argentinos cantaram, dançaram, pularam, tocaram tambores e agitaram bandeiras de seu país enquanto esperavam. Em sua mensagem aos conterrâneos, Francisco observou ainda que as duas pontas da vida, a juventude e a velhice, estão "condenadas hoje a um mesmo destino, a exclusão".
Para o papa, os velhos porque estão abandonados e os jovens não têm emprego. Ele insitou os participantes da Jornada a unir-se aos anciãos.
- Não se deixem excluir. Unam-se aos velhos.
- Está é a juventude do papa! Está é a juventude do papa! - respondeu a multidão.
Agustina Bernardi, 15 anos, de Córdoba, disse que ele e os amigos não conseguiam parar de chorar diante de Francisco.
_ Ele disse tudo em duas palavras. Não podemos deixar que nos excluam _ disse a adolescente.
Maria Ines Panuziou, 31 anos, garantiu que vai colocar em prática o pedido de Francisco:
- Ele disse para fazermos bagunça, no sentido de trabalhar pela paz, para ouvirmos os velhos e para não diluirmos a fé. Vamos levar em frente essa missão.
Antes de encerrar, Francisco pediu mais uma vez que rezassem por ele:
- Peço a vocês de coração. Rezem por mim. Não se esqueçam. Necessito muito.
Na hora de deixar o centro do Rio, o papa saiu até a escadaria da catedral para acenar para milhares de conterrâneos que ficaram do lado de fora.