O caso do bebê Diego Welinton de Moura Jardim, que teve 30% do corpo queimado, revelou não somente o problema antigo do Estado - a falta de vagas em UTIs pediátricas - mas também a falta de estrutura no Rio Grande do Sul para atender queimados.
Desde sábado, a família peregrina para encontrar um leito para o menino, mas a Secretaria Estadual da Saúde revela que dos quase 300 leitos de UTI que poderiam recebê-lo, nenhum está disponível.
Inicialmente o bebê precisaria ir para uma UTI pediátrica. São 245 vagas, sendo 194 do Sistema Único de Saúde (SUS). Nenhuma estava disponível para a criança desde a sua internação. Agora, o bebê precisa ser tratado em um local especializado para queimados mas em todo Estado, são apenas quatro vagas na UTI do Hospital de Pronto Atendimento e outras 16 na unidade de queimados do Hospital Cristo Redentor, ambas em Porto Alegre. Das 16, apenas sete estão ocupadas. Questionado sobre as razões de a criança não ter sido ainda transferida, já que havia espaço, o secretário estadual de saúde, Ciro Simoni se limitou a responder que estava tentando resolver o caso.
O drama da família de Diego se arrasta desde sábado. No fim da tarde quando a criança de um ano e três meses puxou uma caneca de café para si e acabou com queimaduras de 1º e 2º graus no rosto, nas costas e na barriga. A mãe, Aline de Moura Krack, 19 anos, levou a criança ao Hospital Santa Casa de Santa Vitória do Palmar, que não possui UTI. A família entrou na Justiça na madrugada e conseguiu que ele fosse transferido para o Hospital Universitário de Rio Grande, distante 240 quilômetros de sua cidade. Porém, também lá não há UTI específica para a então necessidade de bebê, uma pediátrica ou para queimados.
A demora para encontrar atendimento específico para o seu caso pode impactar na saúde do bebê, embora ele esteja estável:
- Estamos cuidando da melhor forma possível. Mas o ideal no caso dele, para melhor recuperação, é estar em uma unidade de queimados, que tem uma equipe multidisciplinar com treinamento específico - explica a diretora técnica do Hospital Universitário de Rio Grande, Susi Lauz.
Atrasos desde o início
Os problemas enfrentados pela família de Diego Welinton de Moura Jardim começaram no primeiro dia, ainda no Hospital Santa Casa de Santa Vitória do Palmar. Apesar do bebê ter entrado às 19h, apenas à 1h o pediatra chegou ao local. Antes, ele havia sido atendido por uma clínica geral. A direção do hospital alega que chamou o médico somente às 23h30min, o horário em que ele foi internado na pediatria. Antes disso, as tentativas foram para transferi-lo a um local. A demora foi registrada na Brigada Militar. A Polícia Civil e o Ministério Público irão investigar o caso:
- Iremos averiguar se houve omissão de socorro - resume o delegado da cidade, Rafael Vitola Brodbeck.
Já a promotora substituta da 3ª Promotoria de Santa Vitória do Palmar, Daniela Timm Ferreira, recorda que o local é alvo de investigação anterior:
- Instauramos um inquérito em dezembro de 2012 para apurar eventuais irregularidades. A população se queixava de problemas na tiragem. Porém, até o momento, nada foi constatado.
Como funciona a busca por vagas, pela Central de Leitos
No caso de emergência, o paciente entra em um hospital geralmente pelo pronto atendimento. Após a primeira averiguação, o médico responsável determina qual tipo de tratamento a pessoa deve tomar. Se for algo que precisa de cuidados especializados, como traumatologia ou queimados, e o hospital onde a pessoa está não possui a tecnologia e os profissionais capacitados, o hospital liga para a Central de Leitos. É um canal de comunicação entre todos os leitos disponíveis nos mais variados tipos de UTIs no Estado, que cruza as informações das necessidades de pacientes com as vagas disponíveis no Estado.
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