Desde as 19h de sábado, a família de Diego Welinton de Moura Jardim viveu um drama já comum aos gaúchos: a falta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) que atendam crianças no Estado.
Com um ano e três meses, o bebê teve queimaduras de 1º e 2º graus no rosto, nas costas e na barriga no fim da tarde de sábado, quando puxou uma caneca de café e derramou o líquido quente sobre si.
A mãe, Aline de Moura Krack, 19 anos, levou a criança ao Hospital Santa Casa de Santa Vitória do Palmar, onde a família reside. Diego foi atendido por um clínico geral, mas precisava ser transferido, pois o local não tinha suporte médico para tratá-lo. Ele necessita de atendimento especializado em uma UTI com capacitação para crianças queimadas. Segundo o hospital, teriam sido feitos contatos com Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre, mas todos alegavam estar sem vagas.
Outro problema enfrentado pelos familiares teria sido a demora do pediatra. O médico, que estava de sobreaviso, teria chegado ao local somente cinco horas após a hospitalização da criança, conforme familiares. O hospital alega que o médico apenas foi chamado por volta das 23h30min, horário em que a criança foi internada na pediatria, e que teria chegado por volta da 1h.
- Internamos o bebê na pediatria nesse horário porque antes estávamos tentando transferi-lo. Como o processo estava difícil, resolvemos interná-lo e, então, chamamos o médico. Mas não temos UTI nem suporte para cuidar de pacientes nesse estado - explica a diretora-geral do hospital, Noris Donato Gonzalez.
Uma ocorrência foi registrada, e a Brigada Militar confirmou que, no momento da visita ao hospital, à 0h45min, não havia especialista.
Transferência para Pelotas ou Porto Alegre era aguardada
A família entrou com um pedido de liminar na Justiça para internação imediata em Rio Grande. O pedido foi acatado, e a criança foi levada por volta das 5h ao Hospital Universitário do município, distante 240 quilômetros de Santa Vitória do Palmar. Até as 18h40min, porém, ainda estava à espera de um leito de UTI.
- Estamos tentando que ele seja transferido para Porto Alegre, mas está difícil - desabafa a mãe.
A diretora técnica do Hospital Universitário, Susi Lauz, ficou surpresa:
- Não temos UTI de queimados ou pediátrica. Não sei por que enviaram a criança para cá.
O hospital tem seis vagas de UTI para adultos e 10 para recém-nascidos - todos ocupados. Segundo a direção, eles não se enquadram na necessidade do bebê, que precisaria de uma UTI de queimados ou pediátrica. Diego está em um quarto isolado, estável, apesar de ter 30% do corpo queimado. O hospital tentava ontem transferência para Pelotas ou Porto Alegre, sem sucesso.
A Secretaria Estadual de Saúde não soube informar ontem quantos leitos havia em UTIs pediátricas no Estado e quantos atendiam crianças queimadas. Tampouco soube informar se há vagas.
Problema recorrente
Situação semelhante ocorreu na mesma cidade com o caso da mãe de gêmeos Elisiane San Martins.Em novembro de 2011, ela teve de viajar mais de 500 quilômetros para dar à luz os bebês.
Com a bolsa rompida, Elisiane viajou de Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado, até Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, devido à falta de leitos em UTIs neonatais na região. Elisiane aguardou durante três dias até ser encaminhada.