O espetáculo do crescimento, quem diria, chegou aos mapas. Ao atualizar as dimensões oficiais do Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) descobriu que o país expandiu sua área em 890,45 quilômetros quadrados. Parece insignificante, mas a diferença supera as extensões totais de Bahrein e Cingapura e só perde por uma cabeça para Hong Kong e seus 1.099 quilômetros quadrados.
Dito isto, resta saber quem operou o milagre da expansão - e se ele tem serventia. Desta vez, o crescimento brasileiro não foi motivado por bandeirantes, avançando por territórios estrangeiros, ou tratados negociados pelo Barão do Rio Branco. Segundo o IBGE, trata-se de uma graça dividida entre santos como o aprimoramento tecnológico na medição e a simples incorporação de novas áreas, especialmente de pequenos arquipélagos e de águas internas. E isso nem vem de agora: na atualização do instituto divulgada em 2001, as lagoas dos Patos e Mirim entraram na conta do território gaúcho.
De acordo com o geógrafo Gervásio Rodrigo Neves, ex-professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-delegado do IBGE no Estado, a mudança não é significativa. Justo porque ela acontece o tempo todo, e assim sempre será. Culpa de pequenos detalhes, imperceptíveis para os leigos mas sensíveis aos equipamentos de medição.
- Qualquer alteração no nível do mar muda a medida. Se a maré estava baixa, é uma coisa. Alta, é outra - diz.
Na atualização de 2013, o IBGE incorporou fatias de baías como a de Todos os Santos, na Bahia, e de águas internas em Santa Catarina. Segundo Gervásio, a abordagem é correta. A coordenadora de Estruturas Territoriais do instituto, Miriam Barbuda, explicou o procedimento à Agência Brasil:
- Nós não estamos mudando os limites territoriais do país ou divisas internacionais, mas aprimorando a tecnologia do trabalho, o que leva à revisão de valores de área publicados.
Neste caso, grande responsabilidade recai sobre o GPS, velho conhecido dos carros brasileiros e fundamental para o funcionamento do Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (Sirgas2000), adotado pelo IBGE. O instrumento permitiu maior precisão no mapeamento territorial - superior às tecnologias da década de 1990, por exemplo, e sem comparação com a fotografia aérea, dos anos 1940.
- O GPS é uma mudança brutal e violenta - atesta Gervásio.
Ou seja: resta esperar pelo próximo capítulo do efeito sanfona nas dimensões do Brasil, distribuído em exatos 8.515.767,049 quilômetros quadrados. Mas não estranhe ter lido esta informação só agora, no último parágrafo deste texto: ela realmente não fará grande diferença na sua vida.