O acesso online às reportagens produzidas pelos principais jornais do mundo está passando por uma revolução - mas só os leitores mais assíduos vão percebê-la. Em 2012, após anos de experimentos com diferentes modelos, publicações estrangeiras e nacionais - e Zero Hora a partir deste domingo - estão adotando um sistema de cobrança pelo conteúdo digital no qual o volume de leitura define se há ou não pagamento.
A estratégia escolhida por ZH foi lançada pelo britânico Financial Times e popularizada pelo norte-americano The New York Times, referências do jornalismo internacional que criaram uma solução intermediária para a decisão entre cobrar por tudo (e perder parte da audiência e dos anunciantes) ou oferecer o conteúdo de graça (e ficar sem receita suficiente para produzir informação de alta qualidade). No chamado modelo poroso, que está sendo implantado por centenas de jornais, dezenas deles do Brasil, permite-se o acesso gratuito a um determinado número de artigos ao longo do mês - de 10 a 30, em geral. O leitor que faz uso constante do jornal online e ultrapassa esse limite é convidado a optar por uma assinatura que lhe permite acesso irrestrito.
Esse sistema virou um sucesso porque garante a alta audiência das seções mais visitadas, como as capas externa e internas do site, e as visitas de um grande número de leitores ocasionais (muitas vezes tão ocasionais, que sequer descobrem que há um limite). Desta forma, os sites seguem atraindo anunciantes, ao mesmo tempo em que estimulam a assinatura dos leitores que desejam informação com constância e, no caso de ZH, com forte conteúdo local em profundidade.
Em junho, o novo sistema ganhou a adesão da Folha de S.Paulo, jornal de maior tiragem do país. A exemplo de ZH, outros dois grandes diários, O Estado de S.Paulo e O Globo, se preparam para a cobrança. Trata-se de uma tendência irreversível, avalia o diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira:
- Jornalismo de qualidade, praticado com independência e profissionalismo, é resultado de investimento e precisa ser devidamente remunerado. As pessoas que valorizam o bom jornalismo estão pagando por isso.
Leitor se identifica com produção global
Os Estados Unidos são o país onde o processo avançou mais, tendo como marco a implantação pelo The New York Times. Com a estratégia, o diário amealhou mais de 400 mil assinantes digitais.
- Houve previsões de que teríamos uma grande queda nos acessos, mas isso não ocorreu. Após o lançamento do modelo, a perda foi mínima - afirma Eileen Murphy, porta-voz do jornal.
De lá para cá, publicações como Los Angeles Times seguiram o mesmo caminho. O grupo Gannet, maior grupo do setor nos EUA, anunciou que adotará a prática em 80 jornais, com expectativa de aumentar a receita em US$ 100 milhões no próximo ano. Dos 1.532 diários norte-americanos, 239 implantaram ou anunciaram algum modelo de cobrança. Um dos gurus da área, Clay Shirky, professor da New York University, observa que, à medida que cobram da parcela mais fiel de seus leitores, os jornais passarão por um fenômeno interessante: vão se tornar mais comprometidos com quem não é um mero visitante ocasional, mas um parceiro engajado:
- Cobrar dos leitores frequentes não significa cobrar por conteúdo, e sim por serviço. A opção estará relacionada à identificação do leitor com uma produção global, e não com um conteúdo.
Tire suas dúvidas
O site de ZH ficará aberto apenas para assinantes?
Não. Qualquer usuário terá direito a até 30 notícias gratuitas no mês - importante ressaltar que o período referido é do primeiro ao último dia do mês no calendário (não 30 dias quebrados entre agosto e setembro, por exemplo). A partir deste limite, aí sim, só terão direito a continuar acessando os assinantes da modalidade completa, de segunda a domingo, ou os assinantes da modalidade digital, mediante o preenchimento de usuário e senha.
Como vai funcionar?
Após o usuário atingir o limite de 30 notícias, na 31ª aparecerá uma tela convidando-o para preencher usuário e senha. Caso o usuário não seja assinante, ele encontrará na mesma tela os preços e as condições para fazer sua nova assinatura.
O que conta como acesso a uma notícia?
Contam como acesso cliques em links dentro do site. A home e as demais capas do site não contabilizam como acesso. Exemplo:
- O usuário coloca em seu navegador
"zerohora.com" e aperta "enter": não conta como acesso.
- O usuário clica na manchete do site para ler a reportagem: conta como acesso.
A cada primeiro dia do mês é zerado o número de notícias a que tenho direito?
Sim, independentemente de você ter clicado em 29 ou 10 matérias num mês. No primeiro dia do mês seguinte, começam a contar os 30 acessos de novo.
Por que apenas 30 notícias no mês?
Porque ZH entende que, com 30 notícias livres no mês, boa parcela dos leitores conseguirá consumir nosso conteúdo. Mais do que 30 notícias será privilégio apenas do assinante da modalidade completa, de segunda a domingo, ou da modalidade digital.
Links de notícias de Zero Hora compartilhados via redes sociais têm limite de acessos?
Não. Mesmo se o limite de notícias do mês tenha sido atingido no site, você poderá ler o conteúdo que foi compartilhado dentro da rede social.
Há limite de acessos para notícias de Zero Hora que encontrei em um buscador como o Google ou o Bing?
Não. Vale a mesma lógica das redes sociais, mesmo que o limite de acessos tenha sido atingido, você poderá ler o conteúdo de ZH que encontrou dentro do buscador.
Os aplicativos de ZH nos tablets e smartphones também terão 30 acessos gratuitos no mês?
Não, os aplicativos de ZH ficarão abertos apenas para assinantes da modalidade completa, de segunda a domingo, ou da modalidade digital. Importante: os assinantes precisam atualizar os aplicativos nas respectivas lojas (iTunes/App Store e Google Play).
A que a assinatura digital de ZH dá acesso?
O assinante digital tem acesso a todo o conteúdo publicado no site, com notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana, além da versão digital das últimas 30 edições do jornal impresso e dos aplicativos para smartphones e tablets.
Quanto custam as assinaturas?
A assinatura completa (de segunda a domingo com todos os cadernos + acesso digital) custa R$ 66,90/ mês.
A assinatura digital custa R$ 36,90/ mês, mas tem preço promocional de R$ 4,90/ mês nos dois primeiros meses.
Para mais informações sobre a cobrança digital e o passo a passo sobre como atualizar os aplicativos, acesse: zerohora.com/zhdigital
Expoentes de um novo modelo
Financial Times
O tradicional jornal de negócios britânico lançou a iniciativa há cinco anos. Para ler a primeira notícia no site, já é preciso preencher um cadastro. A partir daí, o leitor tem acesso a 10 artigos no mês. Se quiser mais, terá de fazer a assinatura digital. Já há 285 mil assinantes digitais e a expectativa é de que, em 2013, os assinantes online superem os da versão impressa.
Los Angeles Times
Jornal norte-americano com terceiro maior número de acessos ao seu site em 2011, a publicação começou a cobrar por notícias online em março. Anunciou a nova política como um "programa de adesão", que inclui não só acesso ao conteúdo digital, mas também promoções e brindes. Os leitores têm acesso gratuito a até 15 textos dentro de um período de 30 dias.
The New York Times
Em março de 2011, o mais importante jornal norte-americano adotou um modelo similar ao do Financial Times, mas mais aberto. A aposta foi permitir a leitura gratuita de até 20 artigos/mês - mais tarde, o limite foi reduzido para 10. Quem deseja ter acesso a todos os conteúdos passou a pagar mensalidades entre US$ 14,99 e US$ 35. O resultado foram mais de 400 mil assinaturas.
Folha de São Paulo
Tornou-se, desde junho, o primeiro grande jornal brasileiro a adotar um modelo de cobrança, no que será seguido por várias publicações nacionais ao longo de 2012. A cada mês, o internauta pode ler até 40 artigos sem pagar. Passando desse limite, será convidado a fazer uma assinatura digital.