É para o Norte que os oficiais a bordo da fragata União lançam seus binóculos, radares e olhares mais preocupados.
A Síria do ditador Bashar al-Assad pode colocar a missão brasileira no olho do furacão da Primavera Árabe. A rebelião para derrubar o regime está prestes a extrapolar as fronteiras sírias e se espraiar pelo frágil território libanês - que não tem força aérea, possui exército incipiente e cuja marinha está ainda em treinamento.
Os sinais do aumento da tensão já chegam até os militares a bordo da União e influenciam as patrulhas. Na segunda-feira, primeiro dia de ZH a bordo, um navio de inteligência russo foi monitorado pela patrulha brasileira. Interrogado, não respondeu às perguntas da embarcação brasileira. A Rússia é tradicional aliado do regime sírio - e sua presença no Mar Mediterrâneo é uma demonstração de força.
Por outro lado, navios suspeitos de transportar armas para os rebeldes também estão na área. Há 15 dias, graças a informações passadas pela frota naval da ONU, o navio Letfallah II, transportando dois contêineres com armas e munições, foi interceptado ao se aproximar de Trípoli, cidade libanesa próxima à fronteira com a Síria. Os 10 tripulantes foram presos, e a carga, que havia saído da Líbia, apreendida.
Desde então, a fragata União, com 237 militares a bordo, reforçou as patrulhas no chamado quadrante Norte, que compreende a área marítima da costa libanesa entre Beirute e Trípoli.
O governo da Síria exerce influência sobre o governo do Líbano e conta com o apoio da milícia xiita do Hezbollah (um partido legalizado aqui e que conta com braço armado, considerado terrorista por Israel, EUA e União Europeia). No Vale do Bekaa, onde vive a maioria da comunidade brasileira, a 15 minutos da fronteira síria, estão sendo organizados planos para uma evacuação, a exemplo do que ocorreu na guerra de 2006.
Por ser integrante da missão da ONU, o Brasil segue regras de engajamento - só pode utilizar força, se for atacado. Desde o início da missão brasileira, houve vários momentos de tensão, relata o comandante da União, capitão-de-fragata Ricardo Gomes. No final do ano passado, um caça F-16 israelense sobrevoou um navio alemão comandado pela União.
A embarcação ficou em alerta - o caso foi considerado uma atitude hostil. Em reuniões na ONU, foi acertado que a aviação israelense não poderia se aproximar mais do que 3 milhas (5,5 quilômetros) e altitude inferior a 5 mil pés (1,5 mil metros) das embarcações da ONU.
Mas as violações são frequentes. Imagens no arquivo digital da fragata comprovam: as câmeras da embarcação brasileira flagraram um Boeing israelense abastecendo um caça durante voo sobre a fragata União.
- É um comportamento não amistoso. O cara fica ali, se aproxima, vem em direção ao navio e quando chega a 5 milhas da União, ele se afasta. Às vezes, são quatro, seis aviões. É uma atitude provocativa. Você tem que ter calma, paciência e ficar pronto - relata o comandante.
A bordo da fragata União
Sombras da guerra síria pairam sobre o Líbano
Síria do ditador Bashar al-Assad pode colocar missão brasileira no olho do furacão da Primavera Árabe
Rodrigo Lopes
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