Entre livros e pilhas de processos, uma caveira de gesso em tom amarelado se destaca na mesa do advogado Alexandre Brandão Rodrigues, 40 anos. O amuleto remete a 26 de junho de 2002 - dia em que a morte se desenhou no horizonte.
Naquele inverno, 10 anos atrás, o diagnóstico de câncer tirou-lhe o chão. A forma como aproveita cada minuto de vida ganhou sentido novo. Trabalhar sob a mira do talismã é a forma adotada por Alexandre para não perder o foco.
- Sempre a coloco olhando pra mim. É como se aquele objeto estivesse dizendo: "aproveita o teu dia ao máximo e não tenha medo de perseguir as tuas vontades por que logo, logo estarei aqui" - confidencia.
Uma febre insistente e dificuldade para respirar foram os sintomas que levaram Alexandre, então comandante do Pelotão Ambiental da Brigada Militar de Torres, a buscar ajuda médica. Dois meses se passaram até o diagnóstico: Linfoma de Hodgkin. O tumor do tamanho de uma laranja entre os pulmões estava em estágio avançado.
- Eu tinha 30 anos e um filho de um ano e meio. Pensava que ia morrer. Não entendia por que Deus queria me tirar a vida tão cedo. Aí, no hospital, olhei para o lado e vi um monte de criancinha careca. Fiquei quieto. Não tinha do que reclamar. Melhor era batalhar para curar o meu câncer - lembra.
Foram sete meses de quimioterapia somados a quase dois meses de radioterapia. Encontrou no objetivo de se tornar defensor público a esperança da cura e virou noites estudando, mesmo com soro e remédios ligados às veias.
- Enxerguei aquele período não como um fardo, mas sim como uma portunidade de me dedicar à carreira, perseguindo um sonho - ressalta o advogado.
Da Brigada Militar, ficou afastado nove meses. Do trabalho, nunca. Durante o tratamento, escreveu um livro sobre prisão em flagrante, lançado no primeiro semestre de 2004.Assim que se sentiu capaz de retomar o emprego, procurou a BM. O atendente o desencorajou e sugeriu que pensasse em entrar para a reserva.
- Fiquei furioso. Eu queria trabalhar, ainda mais que acabara de descobrir não ser eterno - relembra.
Foi até o oncologista Rodolfo Radke, em Porto Alegre, e implorou por um atestado favorável ao regresso.
- Ele foi um paciente admirável. Tinha condições de trabalhar e o direito de não ficar estigmatizado - comenta Radke.
Alexandre conquistou o retorno em março de 2003 e ficou por quase um ano no Instituto de Pesquisas da BM, passou no concurso e, em 2004, foi nomeado. Hoje responde pela 2ª Defensoria Pública de Lajeado.
- A doença só me deu coragem. Se tu enfrentas a morte, o que tu vais temer? - questiona Alexandre.