Canguçu, município com 53 mil habitantes na Metade Sul do Estado, está em choque. A UTI Neonatal do Hospital de Caridade do município - um sonho acalentado há anos pela comunidade - foi fechada após apenas três meses de funcionamento pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
As razões: falta de médicos suficientes para manter a unidade criada para ser referência regional e uma mortalidade de bebês bem acima do usual. Nos 90 dias de funcionamento, morreram no local 12 bebês dos 45 atendidos. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a proporção na casa de saúde de Canguçu foi de 80 óbitos para cada mil nascimentos no hospital, no primeiro mês de vida. A média nas UTIs neonatais gaúchas, segundo a secretaria, é de 13 mortes para cada mil nascimentos. Ou seja, em Canguçu teriam morrido mais de seis vezes o número de crianças que o costumeiro em outras unidades do gênero no Estado.
- Faltava pessoal. Além disso, estava com uma taxa de mortalidade bem acima do usual, mesmo com pouco tempo de funcionamento. Nesses casos, tem de parar e ver o que ocorreu - afirma o secretário estadual de Saúde, Ciro Simoni.
Conforme as primeiras conclusões da apuração feita pelo governo do Estado, não houve epidemia na UTI. Os bebês morreram de causas diferentes, e a suspeita das autoridades estaduais é que as mortes tenham ocorrido por um fator muito humano: pressa. Na ânsia de abrir a unidade intensiva, faltaram especialistas habilitados. A unidade de Canguçu começou a funcionar com apenas dois médicos e, depois de algum tempo, contava com quatro - quando o número exigido pela Anvisa seria oito médicos para cuidar de 10 pacientes (a capacidade da unidade). Ciro Simoni relata que, para obter a autorização para o funcionamento da unidade, o hospital mostrou contratos firmados com uma empresa que empregaria os médicos na instituição:
- Parece que o contrato não vingou, mas só ficamos sabendo depois, quando começaram a acontecer as mortes. Aí decidimos intervir.
O chefe da Divisão de Assistência Hospitalar e Ambulatorial da SES, Marcos Lobato, foi a Canguçu ver a situação de perto. Apesar de não estarem prontos os relatórios da vigilância sanitária e da auditoria médica realizada na UTI, Lobato adianta algumas falhas constatadas.
Sob investigação
Morte de bebês e falta de médicos levaram ao fechamento da UTI neonatal de Canguçu
Em 90 dias de funcionamento, 12 crianças morreram na unidade
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