O produtor rural Osmar Finkler e seu amigo Lírio Persch recebem a chave da F-1000 e os documentos do veículo. É a prova que esperavam de que o drama do cativeiro chegara ao fim, depois de 28 horas. Em instantes, estarão salvos. Para não reconhecer o local, recebem capuzes e são embarcados no Corsa que os conduzirá à liberdade. Os sequestradores abrem a porta da garagem e dão a partida no motor.
Nesse momento, três disparos espocam na garagem. Finkler grita por socorro. Persch mal consegue grunhir e, então, emudece. Quando a situação se acalma e o capuz do agricultor é retirado, ele descobre a razão do silêncio. Seu amigo está morto.
Terminou assim, com uma morte estúpida e desnecessária, às 14h de quarta-feira, no centro de Gravataí, uma operação policial desastrada que teve início no Paraná, envolveu as polícias Civil e Militar gaúchas em uma teia de trapalhadas e resultou na perda de duas vidas inocentes.
ZH teve acesso, ao longo desta semana, em Curitiba (PR), a relatórios e informações que permitem reconstituir os antecedentes da missão mal-executada que surpreendeu os gaúchos.
É uma história que começa no dia 5 de setembro, quando um fazendeiro de Ivaiporã (PR) é atraído até um posto de combustíveis de Sapucaia do Sul, na Grande Porto Alegre. Ele vem para comprar uma colheitadeira a preço de ocasião. Quando chega, não encontra um vendedor, mas sequestradores. Encapuzado e colocado em cativeiro, só ganha a liberdade depois de pagar R$ 140 mil ao bando.
Um mês depois, no começo de outubro, o telefone toca no gabinete de Renato Figueiroa, chefe do Tático Integrado Grupo de Repressão Especial (Tigre), unidade antissequestro da polícia paranaense. Do outro lado da linha está um gerente de banco de Ivaiporã. Ele conta que um de seus clientes havia sido vítima de extorsão mediante sequestro.
Convidado a visitar a sede do Tigre, um prédio sem identificação na Vila Izabel, zona nobre de Curitiba, o agricultor lesado em R$ 140 mil confirma o sequestro e revela que fora atraído a Sapucaia do Sul por causa da máquina oferecida de barbada na internet.
- Eles me mandavam e-mail, e havia um site com fotos - contou a vítima.
Os agentes do Tigre descobrem que o site ainda está no ar, com imagens da colheitadeira. Também localizam outras duas vítimas do golpe, produtores rurais de Arapongas (PR) e Terra Roxa (PR). A partir desses elementos, os policiais levantam os números de telefone usados pelos bandidos e obtêm autorização judicial para monitorá-los.
A escuta é feita durante 24 horas por dia e comprova que a quadrilha tem sua base na Região Metropolitana de Porto Alegre, é formada por gaúchos e paranaenses e tem como líder Vladimir Aparecido Carvalho Grade, o Magrão, 45 anos. Apresentando-se como Edson de Oliveira Louzada, ele demonstra uma lábia de mestre ao convencer os agricultores paranaenses a viajar ao Rio Grande do Sul para fechar negócio.
- A gente não devia dizer isso, mas o cara é bom no que faz - comenta um policial do Tigre.
É dada a ordem para a viagem