A partir da segunda semana de junho, um trecho de aproximadamente três quilômetros da BR-116 no sentido Canoas-Porto Alegre deverá receber uma intervenção emergencial contra os constantes engarrafamentos: a implantação de uma terceira faixa. Mas a eliminação do acostamento nesse mesmo intervalo, necessária para aumentar a capacidade da via sem obras de ampliação, desperta preocupação entre especialistas.
Em fase final de recuperação do asfalto, o trecho metropolitano da BR-116 é um dos mais congestionados do Estado. Todas as manhãs, costumam se formar longas filas de veículos avançando lentamente por Canoas rumo à Capital.
Para tentar dar mais fluidez ao trânsito no ponto mais crítico do nó viário gaúcho, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) anunciou que vai substituir às atuais duas faixas de 3,6 metros de largura por três de 3,5 metros, eliminando os acostamentos externo e interno.
Assim, no percurso entre os viadutos da Metrovel, próximo à Praça do Avião, e do bairro Rio Branco, próximo ao limite de Canoas com Porto Alegre, os motoristas que circularem no sentido Interior-Capital deverão encontrar uma nova rodovia.
- Estamos concluindo a recuperação do asfalto, depois precisamos esperar uns 10 dias para implantar a sinalização. Acredito que teremos a terceira faixa por volta de 10 de junho - afirma o superintendente regional do Dnit, Vladimir Casa.
Encontro de avenida com rodovia forma gargalo
O principal objetivo é evitar que os motoristas em trânsito pela rodovia reduzam a velocidade no ponto onde a BR-116 recebe o tráfego que vem da Avenida Victor Barreto, próximo ao centro de Canoas. Esse é considerado um dos principais gargalos na região. Com uma faixa a mais a partir deste ponto, os motoristas que vêm da avenida não deverão mais interferir no trajeto de quem já circular pela BR nas outras duas faixas.
- Hoje saem da Victor Barreto dois, três carros juntos. Quem segue pela BR freia e gera um efeito cascata que resulta em quatro, cinco quilômetros de congestionamento - aponta o superintendente.
Especialista apontam riscos da mudança
A substituição do acostamento por um terceira faixa divide especialistas em trânsito. Embora a perspectiva de redução de engarrafamentos seja saudada, o alerta é para os riscos da eliminação da área de escape.
Para o consultor em segurança viária Mauri Panitz, que foi engenheiro responsável pela BR-116 nos anos 70, a medida é positiva por amenizar um problema insustentável de forma rápida.
- Se nada for feito, o caos vai se instalar definitivamente, e a Região Metropolitana sofrerá um apagão logístico. É uma saída emergencial - argumenta.
Ele reconhece, porém, que há uma possibilidade de aumentar o perigo para os motoristas:
- Com certeza, surgirão novos riscos sem as áreas de escape. Mas, se houver boa fiscalização e sinalização, poderemos prevenir os acidentes.
Já o professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano considera temerária a eliminação completa do acostamento.
- Sem uma área de escape, uma pane, um pneu furado se torna um risco iminente para o tráfego - avalia.
Vladimir Casa argumenta que os técnicos do órgão consideram esse trecho da BR-116 uma área urbana semelhante à de grandes avenidas porto-alegrenses, onde também não há acostamento.
- Consideramos que o perigo é o mesmo - resume.
O inspetor Walter Mota, do setor de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), avalia que a medida terá bons resultados e afirma que contará com fiscalização específica da corporação. Ele estima que, semanalmente, entre três e cinco veículos enfrentam problemas como panes ou acidentes no trecho - mas não considera que isso seja empecilho à terceira faixa:
- Em caso de problema, o condutor deve ligar imediatamente para nós no 191.
Prepare-se para a alteração
COMO REDUZIR OS RISCOS MEDIDAS PREVENTIVAS
- A manutenção do veículo ganha importância redobrada. Mantenha sempre adequados o nível de combustível, conservação dos pneus e freios, além de áreas fundamentais do veículo como a elétrica e a mecânica
- Se perceber algum tipo de mau funcionamento no veículo, tome uma saída da BR-116 antes de chegar às proximidades da Praça do Avião, em Canoas
- Ao dirigir no trecho sem acostamento, mantenha distância do carro à frente e siga rigorosamente o limite de velocidade de 80 km/h. Sob chuva, redobre os cuidados
- Evite trocar de faixa desnecessariamente
SE PRECISAR PARAR
- Não deixe o veículo no meio da faixa. Tente encaminhá-lo o mais possível para a direita da pista e ligue o pisca-alerta
- Ligue imediatamente para a PRF no telefone 191
- Muita atenção ao tentar sair do carro para não ser atingido por um veículo. Só saia quando tiver certeza de que nenhum automóvel se aproxima
- Coloque o triângulo a pelo menos 30 metros de distância do seu veículo (corresponde a cerca de 30 a 35 passos largos, conforme o tamanho da pessoa)
- Evite aguardar pelo socorro dentro do veículo. De preferência, aguarde alguns metros adiante do seu carro, o mais longe possível da pista, na faixa de resguardo entre a pista e a mureta
VANTAGENS E DESVANTAGENS
- É uma alteração rápida e de baixo custo, já que não exige obra
- Atinge um dos principais pontos de congestionamento da BR-116
- Elimina a redução de velocidade na intersecção com a Avenida Victor Barreto
- É solução emergencial, enquanto avançam obras como Rodovia do Parque
- Aumenta riscos para os motoristas em caso de necessidade de parada do veículo
- Pode levar motoristas irresponsáveis a ultrapassar o limite de velocidade em trecho sem acostamento
- Ao final dos três quilômetros, os motoristas voltarão às duas faixas
- É uma medida apenas paliativa
Fonte: inspetor da PRF Walter Mota