A luta sempre esteve presente na vida da canoísta Valdenice Nascimento, 34 anos. Nascida no quilombo Porto de Trás, no interior baiano, a atleta rema desde criança e, por anos, liderou campanhas para que a canoa feminina ingressasse no programa olímpico. E deu certo. Logo na sua estreia em Olimpíadas, classificou-se à semifinal do C1 250 metros, ficando a apenas 0,09 segundo de uma inédita final olímpica.
— Estou feliz pelo resultado. É muito gratificante para mim representar todas as mulheres que lutaram por este feito. Sou pioneira, né?! E representar o meu bairro quilombola e todas as mulheres que lutaram por isso é especial — disse a canoísta à Zero Hora, logo após sair da água do Estádio Olimpíco Náutico da França, neste sábado (10).
Ser pioneira não é novidade para Valdenice. Bronze no Mundial 2014, em Moscou, e no Pan 2015, em Toronto, a baiana já era a primeira mulher a subir ao pódio nestas duas competições. Porém, ao longo da maior parte da sua carreira, a Olimpíada não era um sonho possível, pois, até os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, a canoa era exclusiva aos homens. Naquela época, o programa olímpico incluía as mulheres apenas no caiaque, outro tipo de barco.
— Há anos venho lutando para que a canoa feminina pudesse ser olímpica. A gente fez várias campanhas e, graças a Deus, deu certo. Sou a pioneira, como dizem. Estou muito grata por esse feito — completou a baiana, primeira mulher a representar o Brasil em uma canoa na canoagem de velocidade.
Para os Jogos de Tóquio, em 2021, que marcaram a estreia da canoa feminina, Valdenice não conseguiu a classificação. Em Paris, no entanto, a atleta não só garantiu a vaga como passou diretamente para a semifinal, com uma posição na fase classificatória que a deu o direito de "pular" as quartas de final.
Já na semi, neste sábado, a baiana chegou muito perto da final. Com um tempo de 46,46s, a atleta terminou em quinto lugar, a apenas 0,09s da quarta colocação, que lhe daria a vaga na decisão.
— Estou feliz. É muito gratificante poder ser a primeira mulher a disputa uma vaga em uma final de Olimpíada (na canoa). É uma glória — comemorou.
Ao longo da competição, Valdenice fez ainda questão de enaltecer a luta feminina e a sua origem quilombola.
— É um feito de todas as mulheres. Sou do quilombo Porto de Trás, e esse resultado representa muito a história que temos, de luta e de perseverança nos nossos objetivos. Com certeza todos no meu bairro estão felizes e alegres — afirmou.