
Ídolo do São Paulo e do PSG, o ex-meia Raí, 59 anos, agora se dedica à política. Formado desde o mês passado em Políticas Públicas por uma renomada universidade de Paris, o ex-jogador garante que não pensa em se candidatar a cargos publicos, mas quer utilizar o esporte como instrumento de transformação social. A meta agora é aplicar o projeto do seu mestrado em uma cidade pequena do nordeste brasileiro.
— Terminei o mestrado satisfeito, com um diploma e cheio de ideias. Não quero disputar eleições, mas sim influenciar em políticas públicas. Estudei nesses últimos dois anos ciências políticas e políticas públicas para ver como eu posso pegar essa experiência de luta de 25 anos e adaptá-la para uma cidade — explicou Raí, em entrevista concedida a Zero Hora durante evento na Sorbonne, renomada universidade parisiense.
Utilizar o esporte para modificar a sociedade não é exatamente algo novo para o camisa 10 do Tetra. Há 25 anos, o ex-meia lidera, ao lado do também ex-meia Leonardo, a Fundação Gol de Letra, que realiza atividades educacionais e de assistência social em comunidades do Brasil. Ele também é um dos fundadores da Atletas pelo Brasil, organização que visa estimular a prática esportiva no país.
— Estou há mais tempo na Gol de Letra do que o período em que fui jogador. Mas, depois desses 25 anos, quis me reciclar e me aprimorar. Por isso, ingressei nas Políticas Públicas — explicou.
Durante as Olimpíadas, seis jovens atendidos pela Gol de Letra em comunidades das periferias de São Paulo e Rio de Janeiro estarão em Paris realizando um intercâmbio cultural, que envolverá atividades esportivas e artísticas, visita a monumentos históricos e eventos com atletas da delegação brasileira que disputarão os Jogos e o próprio Raí.
— Os jovens já estão aqui desde o início do mês e estão com educadores e monitores aprendendo e trocando experiências. Com certeza será uma inspiração positiva para eles. Eu digo sempre que o esporte é uma maneira de expressão. O esporte é o homem sempre em movimento e buscando ultrapassar os seus limites — completa.

Irmão de Sócrates, ícone da Democracia Corintiana e conhecido pelo engajamento político no futebol, Raí acredita que esporte e política se misturam. Pensa assim desde os tempos em que viajava de carro com os pais, seu Raimundo e dona Guiomar, para visitar familiares no interior do Pará e do Ceará.
— As reflexões políticas e sociais já vêm do berço. Meu pai era um provocador, assim como minha mãe, que tinha origem pobre, veio do Norte e do Nordeste e sempre fez com que a gente olhasse para a sua origem e conhecesse o país. A gente viajava de carro por três ou quatro dias de Ribeirão Preto ao Ceará e ao Pará, e, nessas viagens, eles iam nos mostrando a realidade do país e as injustiças. Que somos um país cheio de oportunidades, mas um dos mais injustos. Então, essa provocação de reflexões políticas e sociais já vem de vem casa — conta.
Raí está otimista com o impacto da Olimpíada na França e no mundo de uma forma geral. O ex-jogador acredita que os Jogos trarão legados importantes aos imigrantes e aos refugiados, pela presença de atletas de diversas etnias e sobretudo pela Equipe Olímpica de Refugiados, que competirá pela terceira edição seguida e terá em Paris 36 atletas originários de 11 países diferentes.
— Isso, por si só, já é um ato político. E que, sem dúvida, traz a atenção para diversas crises. Para os refugiados, as perseguições, as guerras, os problemas sociais e a pobreza. É uma realidade para a qual a gente não pode se fechar. Obviamente a imigração é um tema delicado na Europa, mas é um tema que tem ser exposto e trabalhado de forma aberta, a partir de um movimento global, e não por só um país ou só um continente. E a Olimpíada chama a atenção para este tema específico. Espero que a partir daí surjam debates para a busca de uma solução conjunta, já que teremos o mundo inteiro presente aqui em Paris — avalia Raí.