A disputa pelas medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris começa em cinco meses. Dona da casa, a França espera fazer uma grande campanha e, além de seguir a tradição iniciada nos Jogos de Seul 1988, quando terminou no Top 10, tentará se estabelecer entre os cinco primeiros.
Os franceses terão a seu favor vários fatores. Além de serem a sede e terem atletas classificados para todas as modalidades e provas, os franceses contarão com o apoio do seu público e com o investimento feito para que o resultado seja o melhor possível.
E ser sede olímpica pode influenciar nas conquistas de um país. Com investimento correto e trabalho de massificação esportiva e incentivo aos jovens, esse pode ser o caminho inicial de consolidação como potência. Para se ter ideia, desde 1984, quando os Estados Unidos sediaram os Jogos, quase todos os países aproveitaram de alguma forma essa combinação de investimento para o evento e crescimento.
Os norte-americanos são donos do melhor sistema esportivo mundial e, desta forma, não precisam ser considerados para análise. Mas a Coreia do Sul, que em 1988 recebeu o megaevento esportivo, soube explorar esses fatores. Os sul-coreanos terminaram a edição de Seul em quarto lugar, atrás só das extintas União Soviética e Alemanha Oriental e dos Estados Unidos.
Mas além daquele resultado específico, o país asiático seguiu obtendo excelentes resultados e só não ficou entre os 10 primeiros lugares em Sydney 2000 (12º) e em Tóquio 2021 (16º).
Em 2021, a Sports Value, empresa especializada em marketing esportivo, concluiu um estudo que mostra o impacto esportivo após a realização de uma edição dos Jogos. Na avaliação, o "retorno efetivo" em medalhas posteriores foi considerado após a análise do investimento realizado pelos países para sediar as Olimpíadas.
A consultoria concluiu que países como Austrália, Coréia do Sul, China, Grã-Bretanha e Japão "foram impulsionados com investimentos realizados para sediar os Jogos".
GZH apresenta as posições dos países sedes das últimas 10 edições dos Jogos Olímpicos nos quadros de medalhas e também avalia a relação entre os investimentos e as conquistas de medalhas e o que os Jogos deixaram para cada um desses países. São eles: Estados Unidos (1984-1996), Coreia do Sul (1988), Espanha (1992), Austrália (2000), Grécia (2004), China (2008), Grã-Bretanha (2012), Brasil (2016) e Japão (2021).
Estados Unidos
Sede em 1984 (Los Angeles) e 1996 (Atlanta), os norte-americanos são os maiores vencedores olímpicos da história com 2.636 pódios, sendo 1.061 de ouro. Nas últimas 10 edições só não liderou o quadro em 1988, 1992 e 2008.
Coreia do Sul
Os sul-coreanos estão em 15º no quadro geral da história olímpica. Em Seul terminaram em quarto, com 12 ouros, 10 pratas e 11 bronzes. O país investiu mais de 700 bilhões de wons (moeda local), o que pelo câmbio atual equivale a R$ 2,6 bilhões, para organizar os Jogos, que ajudaram a economia do país a crescer muito devido número de turistas crescer no país após o evento. No quadro de medalhas, desde Los Angeles, a Coreia do Sul só não se posicionou entre os 10 primeiros lugares em Sydney-2000 (12º) e em Tóquio-2021 (16º). Em contrapartida, depois de Seul estudos apontaram que o país registrou um aumento de 20% de pessoas entrando para o meio esportivo.
Espanha
A Espanha está em 27º no ranking olímpico, com 48 medalhas de ouro de um total de 167 conquistas. Sede em 1992, Barcelona se transformou a partir daquela edição que ficou marcada como a primeira que contou com os jogadores de basquete da NBA. Segundo dados da prefeitura local, foram investidos US$ 10 bilhões (R$ 49,4 bilhões pelos números atuais) para organizar o evento que ajudou a revitalizar a cidade. No campo esportivo, a Espanha conquistou em casa quase o mesmo número de pódios que havia obtido até então. Foram 13 ouros, 7 pratas e 2 bronzes e o sexto lugar no quadro.
Austrália
Sempre entre as 15 primeiras nações nos quatro eventos anteriores, a Austrália aproveitou a edição de Sydney-2000 para pular para o Top-5. Com 16 ouros, 25 pratas e 17 bronzes, os australianos só ficaram atrás de Estados Unidos, Rússia e China. Com investimento de US$ 5 bilhões (R$ 24,7 bilhões hoje), a Olimpíada auxiliou no projeto esportivo que posicionou o país no mapa global do esporte. Desde então sempre figurou entre os 10 melhores, incluindo um quarto lugar em Atenas-2004 e um sexto em Pequim-2008 e Tóquio-2021.
Grécia
Berço do olimpismo, a Grécia nunca foi uma potência e mesmo sediando os Jogos em 2004 não conseguiu ter o impulso necessário para crescer. Com sérias falhas de planejamento e organização, aumento de orçamento, a volta do evento para Atenas custou um total de US$ 11,5 bilhões (R$ 56,8 bilhões pelo câmbio atual), quase o dobro do que foi previsto originalmente e é apontada como um fator de aceleração da crise econômica do país. Em termos esportivos, o desempenho daquele ano colocou os gregos em 15º lugar com 6 ouros, 6 pratas e 4 bronzes. Porém, o efeito não foi percebido nos resultados, tanto que os Helênicos só ganharam mais cinco ouros, quatro pratas e seis bronzes nos quatro eventos posteriores.
China
Gigante da economia mundial e país com a maior população do planeta, a China utilizou os Jogos de 2008 para se abrir ao mundo e mostrar força. Pequim teve custo de US$ 42 bilhões (R$ 207, 5 bilhões atuais) e o evento chinês é apontado até hoje como um dos melhores da história. Em casa, os atletas chineses lideraram o quadro de medalhas com 48 ouros, 22 pratas e 30 bronzes, suplantando os Estados Unidos e a Rússia. A posição foi inédita e consolidou o país como potência esportiva, tanto que desde então sempre terminaram entre os três primeiros colocados.
Grã-Bretanha
Londres abriu portas para o mundo olímpico em 2012, com direito a presença da Rainha Elizabeth II saltando de paraquedas ao lado do icônico personagem de cinema James Bond. De acordo com o relatório intitulado "Inspirado por 2012: O legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres em 2012", além do impacto financeiro, os Jogos tiveram forte influência na área de esportes e regeneração da cidade de Londres. Segundo este estudo o país lucrou com os Jogos. O gasto para realizar o evento foi de 8,9 bilhões de libras (R$ 55,593 bilhões na cotação atual) e a receita adicional foi de 9,9 bilhões de libras (cerca de R$ 61,839 bilhões de reais). No âmbito esportivo, os atletas britânicos conquistaram 29 ouros, 18 pratas e 18 bronzes e terminaram em terceiro lugar, comprovando uma tendência de crescimento, após o quarto posto em Pequim, e que foi mantida com a segunda posição no Rio de Janeiro e a quarta em Tóquio.
Brasil
O Rio de Janeiro gastou 14 bilhões de dólares (R$ 69,160 bilhões) para realizar os Jogos de 2016. Primeiro país da América do Sul a sediar uma Olimpíada, o Brasil viu escândalos explodirem após o evento. As medalhas brasileiras no Rio apresentaram o recorde de ouros do país, sete. No total foram 19 pódios, com mais seis pratas e seis bronzes e um grande número de finais. Os investimentos no esporte no país foram aumentados desde os Jogos Pan-Americanos de 2007, com leis e planos que ajudaram a impulsionar o desempenho brasileiro. Os recursos diminuíram para os Jogos de Tóquio, adiados de 2020 para 2021, mas mesmo assim o Time Brasil aumentou seu número de pódios, chegando a 21, ao repetir a quantidade de ouros (7) e de pratas (6) e aumentar a de bronzes (8).
Japão
Os japoneses também sofreram com os gastos e os US$ 25 bilhões (R$ 123,5 bilhões pelos valores atuais) investidos foram alvo de críticas no país, especialmente porque os Jogos não tiveram a presença de público. E também por consequência de turistas e os efeitos da pandemia de covid-19, que provocou o adiamento de de 2020 para 2021, mas não provocou o cancelamento, já que a pressão dos patrocinadores foi muito grande. Sem culpa pelo fator externo, o time Japão se consolidou no cenário esportivo e aproveitou o fato de estar em casa para terminar em terceiro lugar com 27 ouros, 14 pratas e 17 bronzes. Esta foi a quinta vez nas 10 últimas edições com os japoneses entre os 10 melhores do quadro final.
França
Sexta potência na história olímpica, tendo menos medalhas apenas que Estados Unidos, União Soviética, Alemanha, Grã-Bretanha e China, a França abrigará os Jogos de olho em um lugar no Top-5, algo que ocorreu apenas em Atlanta-1996. O orçamento inicial de Paris era de 3,98 bilhões de euros. Porém, com o crescimento da inflação na Europa, em decorrência da crise energética provocada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, esse orçamento foi ampliado para 4,4 bilhões de euros (R$ 23,5 bilhões pela cotação atual). Porém, o governo francês projeta arrecadar até 10,7 bilhões (R$ 57,1 bilhões) e criar mais de 250 mil empregos.