Pouco praticada no país, a canoagem é uma das principais esperanças de medalha para o Brasil na última semana das Olimpíadas. Apesar do bom momento do canoísta Isaquias Queiroz, o grande responsável pelo desenvolvimento da modalidade em território brasileiro é um espanhol, que não está mais vivo, mas deixou a base pronta para os Jogos de Tóquio.
Maior treinador de canoagem do mundo, Jesus Morlán foi contratado pela Confederação Brasileira de Canoagem em 2013 e, pela primeira vez, implementou no Brasil uma metodologia de treinamento para a modalidade. O resultado foi a conquista de três medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
— Antes da chegada do Jesus, nós éramos praticamente amadores, não tínhamos uma metodologia de trabalho. Nós tínhamos muita vontade, mas não tínhamos o conhecimento. Eu acreditava que eu era um treinador, mas só virei um treinador de verdade quando passei a conviver com o Jesus — conta a GZH o atual técnico da canoagem brasileira, Lauro Souza Júnior, que era auxiliar do espanhol.
Quando chegou ao Brasil, Morlán já tinha conduzido o canoísta espanhol David Cal a cinco medalhas olímpicas nos jogos de Pequim 2008 e Londres 2012. E após comandar Isaquias Queiroz na conquista de duas pratas e um ouro no Rio 2016, o treinador traçou como meta de carreira obter 10 medalhas. Porém, acabou não vivendo para ver o sonho realizado.
— O meu trabalho (como auxiliar) ficava muito fácil, pois sempre tinha o Jesus para me orientar. Mas, quando ele ficou doente, passou a ficar mais ausente e eu, aos poucos, comecei a assumir o papel que tenho hoje — completa Lauro.
Diagnosticado com um câncer no cérebro, Jesus Morlán morreu aos 52 anos no dia 11 de novembro de 2018. Porém, por toda a sua contribuição para a modalidade, a equipe brasileira de canoagem considera que o legado do espanhol segue vivo com Isaquias Queiroz.
— Todo o conhecimento que temos sobre preparação e treinamento foram passados do Jesus para o Lauro. Tanto que, após a morte do Jesus, os resultados se mantiveram, e o Isaquias foi campeão mundial em 2019. Hoje, a metodologia dele é empregada não só no treinamento dos atletas de elite, mas também com os iniciantes — revela o chefe da equipe de canoagem nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Álvaro Koslowski.
Já o técnico Lauro Souza Júnior traça como objetivo no Japão chegar duas vezes ao pódio para, de forma simbólica, cumprir a meta de Jesus Morlán de conquistar 10 medalhas olímpicas na carreira.
— O legado do Jesus está vivo durante todo o ciclo. Após o seu falecimento, fiquei com uma dívida e preciso pagá-la conquistando duas medalhas para realizar o sonho dele — finalizou Lauro.
As duas chances do Brasil na canoagem de velocidade em Tóquio são nas duplas, nesta terça (3), com Isaquias Queiroz e Jacky Godman, e no individual, na quinta, com Isaquias.