O centro de ginástica Ariaki estava mais cheio do que em outros dias. Jornalistas, atletas de diversas nacionalidades, comissões técnicas, voluntários. Todos buscavam espaço na arquibancada. Era a despedida da ginástica artística em Tóquio, mas o que causava o alvoroço era um retorno.
Depois de anunciar que não disputaria finais para cuidar da saúde mental, Simone Biles voltaria para uma despedida, uma última apresentação nestas Olimpíadas, na prova da trave. Nossa equipe estava ali para acompanhar a apresentação da brasileira Flávia Saraiva, que acabou em sétimo lugar. Ganhamos de presente esse adeus de luxo da maior estrela da ginástica artística.
Simone entrou na arena em fila, junto com as rivais, que pareciam mais companheiras. Posicionaram-se em frente ao aparelho, e uma a uma foram anunciadas. O êxtase de gritos e aplausos ao nome de Simone foi como um abraço das pessoas ali presentes. Como se dissessem: estamos com você.
E efetivamente estavam. Nem as duas chinesas impecáveis, que acabaram com o ouro e a prata, receberam tanto apoio quanto Simone, que ficou com o bronze. Mas a medalha, incrivelmente, não era o mais importante.
Rebeca
Para quem já tinha sete delas, o objetivo passou a ser outro.
— Somos humanos também, temos sentimentos. Ao fim do dia, as pessoas não entendem pelo que passamos. Eu falei com alguns psicólogos esportivos, fui avaliada pelos médicos. Foi muita coisa, mas valeu fazer as traves — disse Simone, em entrevista na Rádio Gaúcha.
Ah, essa entrevista. Ninguém sabia se Simone falaria. Reinava expectativa entre jornalistas. Acompanhávamos os passos da atleta norte-americana desde que ela deixou o pódio. Ao lado de equipes do mundo todo, queríamos aproximar os gaúchos de Simone. De longe, avistei o abrigo branco que ela vestia.
Gentil, parava em cada um dos muitos microfones apontados para ela. Respondia incansavelmente a mesma pergunta: "Como você está se sentindo?" Naquele momento provavelmente estivesse já cansada de repetir a mesma resposta, mas ainda assim sorria. Absolutamente incrível. Assim eu enxerguei Simone, perguntei sobre Rebeca Andrade. Simone quase não me permitiu terminar a pergunta, tamanha a empolgação:
— Ela é absolutamente incrível. E eu acho que ela vai fazer grandes coisas na ginástica. Espero que ela esteja saudável, boa sorte a ela.
Enquanto esteve afastada das competições, Simone acompanhou todas as provas da ginástica da arquibancada. Não estava em ação com suas acrobacias irrepreensíveis, mas estava lá para dar suporte às suas parceiras. E não só a elas. Ouvi dizer que na prova de Rebeca, Simone gritava:
"Go, Rebeca, go!".
Vai, Simone! A mulher que enche arenas e empolga conquistas, mesmo aquelas que não acabam em medalha.