A palavra cautela não faz parte do vocabulário usual do único brasileiro a ter chegado ao pódio três vezes numa única edição das Olimpíadas. Sabendo que é um dos melhores do mundo em sua modalidade, o canoísta Isaquias Queiroz chegou ao Japão disposto e muito confiante na conquista de duas medalhas de ouro para juntar às suas duas de prata e uma de bronze conquistadas no Rio de Janeiro há cinco anos. Ele não tem meias palavras para definir seu objetivo nestes Jogos e no futuro:
— Eu não imagino como é ser um Robert Scheidt, um Torben Grael, e até superá-los. No Rio em 2016, foram três medalhas, mas não teve a de ouro. Agora, a gente pode ganhar duas de ouro e depois pensar em Paris para tentar mais duas medalhas. Eu não penso em sair daqui sem duas medalhas no pescoço. Posso estar sendo ganancioso, mas treinei muito para isto e eu não quero sair daqui sem este objetivo.
Ao lembrar os dois velejadores, Isaquias está diante dos maiores atletas olímpicos brasileiros da história, ambos com cinco medalhas conquistadas, sendo duas de ouro. Robert Scheidt competirá em Tóquio, mas, embora toda a experiência, não é apontado como favorito a uma sexta medalha, visto que no Rio em 2016 não chegou ao pódio, ficando em quarto lugar na classe laser.
Sempre sincero e seguro quanto a suas possibilidades nas disputas da c1 - 1000m e c2 1000m, Isaquias Queiroz não vê prejuízo em ter um novo companheiro olímpico na canoa C2. Jacky Goodmann será seu parceiro no lugar de Érlon Souza, com o qual Isaquias ganhou a medalha de prata há cinco anos e que, por lesão, ficou fora dos Jogos de Tóquio.
— Não muda muita coisa. O Erlon era bem mais preparado fisicamente, e o Jacky tem mais técnica. Um tinha mais resistência, e outro dá qualidade de remada. Eu e o Jacky tivemos pouco tempo de preparação em 2020 e ainda assim ganhamos medalha de bronze na Copa do Mundo. Agora, estamos bem melhores. O treinamento faz a gente sair muito confiante na medalha.
Na chegada ao Japão, os canoístas não foram para a vila olímpica. Eles estão em Myagase, local que serviu para as provas de canoagem na Olimpíada de 1964 e que fica a 80 quilômetros de Tóquio. No primeiro dia, a estratégia foi treinar logo e evitar dormir durante o dia. Isaquias Queiroz admitiu que sentiu muito o forte calor, mas o que mais estranhou foi a fiscalização e o acompanhamento permanente de agentes sanitários.
— É meio estranho a gente ser sempre acompanhado por uma pessoa. A gente já competiu algumas vezes na Europa, no Mundial ou Copa do Mundo, e a restrição aqui está bem mais rígida. Deve ser porque aqui o número de casos de covid-19 esteja aumentando, mas é diferente, e a gente estranha, pois desde a hora em que nos acordamos e vamos para o refeitório há alguém junto — ponderou.
Em relação à pandemia, Isaquias Queiroz admite que houve uma vantagem para ele com o adiamento em um ano dos Jogos Olímpicos. Segundo o canoísta, ele e Jacky Godmann tiveram mais tempo para treinar e buscar entrosamento a partir da lesão de Erlon Souza. Passados cinco anos desde as medalhas no Rio de Janeiro, Isaquias diz que melhorou em relação às Olimpíadas passadas, seja na questão técnica como numa maior estabilidade emocional, algo que ele vê como fundamental para sustentar a grande confiança em dois ouros no Japão para seguir sonhando com chegar a sete medalhas em 2024 em Paris.