O que era uma atividade física para se conectar à natureza virou competição. E o que virou competição agora é esporte olímpico. Essa é a escalada, uma das cinco modalidades estreantes em Tóquio. Mas esqueça o cenário bucólico das montanhas.
Na Olimpíada, o palco das disputas será em paredões montados em ginásios, alguns com 15 metros de altura e todos cravejados de agarras que simulam obstáculos encontrados em rochas naturais.
Assim como ocorre com o surfe e o skate, que também debutam no evento japonês, a ideia do COI é radicalizar para atrair o interesse do público jovem.
Se nas duas modalidades disputadas sobre pranchas o Brasil é protagonista, na escalada esportiva nossos representantes desempenham papéis discretos. O brasileiro mais bem ranqueado é o paulista Cesar Grosso, apenas o 64º do mundo no combinado, a única prova olímpica do esporte (veja quadro abaixo).
Em vídeo, Pedro Nicoloso explica as três modalidades da escalada esportiva
Pois a escalada até Tóquio será pedregosa: só 20 homens e 20 mulheres terão o direito de brigar por medalhas nos Jogos. Para os brasileiros, a maior chance de classificação – talvez única – será o Pan-Americano de Los Angeles (EUA), no fim de fevereiro. Mas apenas uma vaga por gênero estará em jogo. E tem gaúcho na briga: Pedro Nicoloso, 29 anos.
Nascido em Leidschendam, na Holanda, onde o pai — um santa-mariense apaixonado por montanhismo — cursou doutorado, ele é tricampeão brasileiro de boulder, uma das três especialidades do combinado.
— Desde que comecei a competir, sempre tive vontade de representar o Brasil em campeonatos. Hoje, vendo a escalada evoluir e atingir o nível olímpico, fazer parte desse evento é um sonho para mim — diz.
Para esse mestre em engenharia mecânica que até pouco tempo atrás conciliava bolsa de estudo na UFRGS com o esporte (já participou de competições em mais de 10 países das Américas e da Europa), o desafio será aprimorar a técnica nas outras modalidades, velocidade e guiada.
O problema: o espaço indoor onde treina em Porto Alegre não tem paredões com altura suficiente para praticar essas duas provas. O jeito será viajar com um mês de antecedência para a Califórnia a fim de fazer intensivo de treinos em locais que oferecem a estrutura necessária.
A esperança de Nicoloso é de que a Olimpíada ajude a impulsionar a modalidade no Brasil, com aumento de praticantes e espaços adequados para treinos e competições. O certo é que, com ou sem atletas do país em Tóquio, a escalada já chegou ao topo do esporte.
AS MODALIDADES DA ESCALADA
Boulder
É a prova mais nova da modalidade, introduzida em competições internacionais no final dos anos 1990. Os muros são menores, de 4m50cm, e é a única categoria da escalada em que o atleta não utiliza corda – colchões instalados embaixo do muro absorvem o impacto de quedas. São cinco diferentes desafios, com no máximo 12 agarras, para serem superados em até cinco minutos cada. É uma disputa de força, em que vence quem completar mais desafios em menos tentativas.
Velocidade (speed)
É a prova mais dinâmica e rápida da escalada – o recorde mundial é de apenas 5s48. É disputada em formato mano a mano, em que dois paredões idênticos de 15 metros são montados dentro do ginásio. Vence quem chegar primeiro ao topo. Para se dar bem, o atleta precisa de potência e coordenação.
Guiada ou dificuldade (lead)
É a mais tradicional disputa da escalada. Ganha o escalador que chegar mais alto em um muro de pelo menos 12 metros de altura. É uma prova de até seis minutos que exige resistência para superar os desafios montados em um percurso com diferentes graus de inclinação. Por segurança, cordas e cadeirinhas são usadas – mas o competidor não pode utilizar o equipamento para escalar o paredão.
Na Olimpíada, está programada uma prova combinada dessas três modalidades, no masculino e no feminino. A posição do atleta em cada categoria será multiplicada. Assim, o campeão será aquele que tiver a menor pontuação geral.