Ninguém esconde o difícil momento do esporte de alto rendimento no Brasil. O país vive o baque de sair dos altos investimentos no ciclo pré-Olimpíada em casa para a realidade do mix crise econômica, início de ciclo olímpico e corte de recursos que costumam acompanhar as sedes olímpicas depois de receber o evento. A esperança dos gestores do esporte é começar uma recuperação a partir de 2018, confiando que o esporte olímpico começa a receber maior suporte à medida que a próxima edição dos Jogos se aproxima.
Antes da festa no Rio, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) estabeleceu metas de resultados a serem obtidos. O plano era ficar entre os 10 países com maior número de medalhas. O resultado não foi atingido, mas os 19 pódios garantiram o recorde histórico de conquistas do país em Olimpíadas. A nova gestão do esporte de alto rendimento prefere não se comprometer com um número específico, mas espera ao menos repetir o desempenho de 2016:
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– Óbvio que temos de ter algum tipo de meta, mas não necessariamente numérica. Se não, você acaba criando uma situação que faz com que o atleta se sinta muito pressionado – afirma Agberto Guimarães, diretor executivo do COB.
– Minha esperança e minha busca é fazer um resultado tão bom quanto a gente fez em 2016 – completa.
Para chegar lá, a ideia é usar o exemplo da Grã-Bretanha, que conseguiu a façanha histórica de melhorar, no Rio, seu desempenho após Londres-2012. A lógica britânica foi focar os investimentos onde havia mais possibilidade de retorno. Modalidades que distribuem muitas medalhas e tinham histórico de bom desempenho do país foram priorizadas.
– Isto significa que vão desagradar a opinião pública e participantes de outras modalidades. Protegem, por outro lado, um grupo menor de atletas, que permitem a eles potencializar os recursos. Ninguém consegue fazer tudo. Quando começa a fazer demais, perde o foco. O Brasil tem um potencial enorme, mas não tem histórico de sucesso em 28 esportes olímpicos. Vamos ter de canalizar os recursos, a energia, aos esportes que têm potencial de competir melhor em 2020 – afirma Agberto.
O problema é que os recursos, mesmo que canalizados, são escassos. ZH mostrou, em fevereiro, a situação de atletas olímpicos, incluindo medalhistas, que sofriam com a perda de patrocínios e apoios. A situação se repete nas confederações esportivas, mesmo as mais ricas. Confederações como a de vôlei e a de esportes aquáticos relataram à reportagem a diminuição nos valores dos contratos de patrocínios e, em alguns casos, a perda de apoiadores. Já esportes menos populares, como o tiro esportivo, que trouxe a medalha de prata com Felipe Wu, relata corte de 20% nos recursos advindos da Lei Agnelo Piva, que repassa um percentual da arrecadação das loterias federais às confederações.
– Todo mundo está sentindo este problema. Isso se agravou com a situação política e econômica do Brasil. Querendo ou não, acaba desmotivando um pouco, até porque a gente precisa de investimento, de apoio, de material e estrutura – analisa o judoca Tiago Camilo, presidente da comissão de atletas do COB.
Por enquanto, a rede de apoios com verba pública se mantém, ainda que combalida por cortes e sem o apoio maciço da iniciativa privada que a encorpou antes do Rio. Os atletas comemoram, por exemplo, a manutenção do Bolsa Atleta e do Bolsa Pódio, programas do Ministério do Esporte que repassam recursos diretamente aos competidores. O portal Uol noticiou, no mês passado, corte de R$ 21 milhões no orçamento do Ministério do Esporte, que colocaria em risco a continuidade do programa. A pasta, porém, afirmou à reportagem que os repasses seguem, ressaltando que "já publicou, em 2017, duas listas da categoria Pódio, o que representa 239 atletas apoiados num investimento total de R$ 31,5 milhões".
CORRUPÇÃO E MÁ GESTÃO
Além de conviver com os cortes de recursos, o esporte brasileiro é consumido por escândalos de corrupção e exemplos de mau uso de dinheiro público antes e depois da Olimpíada. Relembre os principais casos
* O presidente da confederação de taekwondo, Carlos Fernandes, foi afastado por suspeita de desvio de verbas e fraude em licitações.
* O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, e mais três dirigentes, ficaram presos por suspeita de desvio de verbas públicas.
* O basquete brasileiro foi suspenso pela Federação Internacional por uma dívida da confederação com a entidade internacional. O ex-presidente da CBB, Carlos Nunes, foi multado pelo Tribunal de Contas da União em R$ 15 mil por supostas irregularidades encontradas em auditoria.
* ZH Esportes