Esqueça a partida de bocha que algum dia você jogou ou viu pela TV, a modalidade paraolímpica da classe BC3, para atletas com paralisia cerebral ou deficiência severa – na qual o Brasil conquistou o ouro nesta segunda-feira –, é diferente. Bom, o princípio talvez seja o mesmo, de colocar a bola colorida perto da branca (também chamado de bolim), mas a forma como os atletas fazem isso não é convencional.
Sem mobilidade nos braços e nas pernas, eles usam varetas, acopladas em capacetes ou colocadas entre os dentes, para sinalizar onde desejam colocar a bocha em uma calha. As esferas de fibra sintética, revestidas de couro, são posicionadas por auxiliares, os calheiros, muitas vezes parentes dos jogadores. Eles não podem falar com os atletas e nem olhar o campo de jogo durante o embate.
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A partida é decidida, totalmente, pelos cálculos de força e velocidade feitos pelos atletas. Na final das duplas mistas da classe BC3, realizada no começo da noite desta segunda, na Arena Carioca 2, o Brasil conquistou o ouro ao vencer a Coreia do Sul por 5 a 2.
Dividido em quatro ends, também chamados de entradas, o primeiro foi dominado pela equipe brasileira, formada por Antônio Leme, Evani Silva e Evelyn de Oliveira. A dupla fez 3 a 0. No segundo e terceiro ends, os coreanos marcaram um ponto em cada. A decisão ficou para o período derradeiro, quando os brasileiros marcaram mais dois pontos e garantiram o ouro. Com a pouca mobilidade que ainda tem, Antônio, conhecido como Tó, começou a ee sacolejar na cadeira alucinadamente, em uma das cenas mais emocionantes dos Jogos do Rio. Já os calheiros se jogaram na quadra e rolaram como crianças. E a torcida comemorou com gritos de "Brasil, Brasil".
– A sensação é única, ainda mais porque é um ouro inédito na nossa categoria – destacou a pernambucana Evani, que, por falta de oxigênio no momento de seu parto, sofreu uma paralisia cerebral, causando severas deficiências nos braços e pernas.
Ainda encantada com a conquista, a campeã também aproveitou para mandar um recado a outros cadeirantes:
– Essa medalha foi importante para mostrar que nada é impossível. As pessoas devem buscar o que querem.
Prata na BC4
Na primeira final de segunda-feira nas duplas mistas de bocha disputada nesta segunda, o Brasil foi prata na classe BC4. Dirceu Pinto e Eliseu Santos buscavam o tricampeonato paraolímpico. Marcelo Santos, irmão de Eliseu, ainda não tinha medalhas (a dupla mista não necessita, obrigatoriamente, ter integrantes dos dois sexos). Mas na final da classe BC4, dos eslovacos Michaela Balcova e Samuel Andrejcik levaram a melhor e ganharam por 4 a 2.
Os irmãos Santos, assim como Dirceu, têm distrofia muscular progressiva. A doença degenerou alguns músculos e os colocou em uma cadeira de rodas. Para que a patologia não evolua mais, eles fazem tratamento e fisioterapia. No esporte, encontraram alegria e vontade de vencer.
– Fiquei três anos sem sair de casa, a bocha mudou minha vida – enfatizou Dirceu.
O jogo
A competição consiste em lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma branca (jack ou bolim). Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio, além de contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros.
A pontuação
Em uma disputa de quatro ou seis ends, dependendo da categoria, cada equipe tem seis bolas para se aproximar da branca e evitar que o adversário faça o mesmo. Ao fim de cada end, o juiz indica quantas bolas, e de qual equipe, estão de fato mais próximas, e define a pontuação.
*LANCEPRESS