S5, T11, FT5, SH1. Difícil não se perder em meio à sopa de letrinhas e números das classes em que os atletas são colocados para a disputa da Paraolimpíada. Há uma lógica, porém, que ajuda a entender a classificação.
Salvo raras exceções, a denominação da classe é composta por letra e número. A letra, em geral, indica a modalidade. O "S", por exemplo, é de "swimming" (natação, em inglês). Nas provas do atletismo, as classes são "T", de "track" (pista, provas como os 100m e 200m rasos), ou "F", de "field" (campo, provas como o arremesso de peso e de disco).
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Os números indicam o grau de limitação dos atletas. O critério é de que números mais baixos indicam deficiências mais limitantes. A seguir essa regra, alguém que compete na classe F31 não tem uma deficiência tão séria, certo? Errado. É aí que entram os diferentes tipos de limitação das atividades de um atleta.
Tipos de deficiência
O Comitê Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) reconhece 10 tipos diferentes de deficiências "elegíveis". As categorias variam: força muscular reduzida, problemas de articulação, deficiências nos membros, baixa estatura e deficiências visuais e intelectuais, entre outras, são listadas (veja todas abaixo). Apenas duas modalidades incluem atletas com todos os tipos de limitação: atletismo e natação. A numeração das classes, especialmente no atletismo, respeita essa divisão de tipos de deficiência.
Assim, os deficientes visuais disputam as classes numeradas entre 11 e 13 – se forem das provas de pista, ficarão entre a classe T11 e T13, se disputarem provas de campo, ficam nas classes F11 a F13. Os das classes 11 têm grau mais severo de deficiência visual, respeitando a lógica de que números menores indicam limitações mais graves.
Só que não há apenas deficientes visuais no atletismo. Assim, os atletas com deficiência intelectual estão na classe T20 ou F20, os com problemas neuromotores ficam entre 31 e 38, os de baixa estatura são 40 ou 41, os com deficiências nos membros entre 42 e 47 e os que têm têm redução da potência muscular ou restrição na amplitude dos movimentos entre 51 e 57.
Como é o processo de classificação?
Já deu pra entender que há uma série de classes que separam os atletas em grupos. Mas quem define a classe de cada atleta?
A classificação dos competidores fica a cargo de grupos de dois a três avaliadores, vinculados às federações internacionais de cada modalidade. Ao analisar o caso de um atleta, eles buscam determinar em qual dos 10 tipos de deficiência se encaixa e avaliam se sua deficiência limita, de fato, a performance esportiva. O Guia publicado pelo IPC lembra que "se um atleta não é elegível para competir em um esporte, isso não coloca em dúvida a presença de uma deficiência genuína. É uma decisão esportiva."
E uma decisão que não é imune a críticas. Recentemente, o processo de classificação funcional foi colocado em xeque por revelações de atletas britânicos ao jornal The Guardian. Segundo os competidores, artimanhas como fingir falta de equilíbrio ou coordenação motora, ou treinar forte pouco antes da avaliação, para que o atleta pareça menos forte no momento dos testes, podem fazer efeito e resultar em uma categorização injusta.
Mistura de classes
Nem sempre os atletas de uma classe competem apenas com seus pares. É o caso de alguns esportes coletivos que misturam, no mesmo time, competidores de diferentes categorias.
No futebol de 7, por exemplo, há quatro classes – de FT5 a FT8. A modalidade é disputada por portadores de deficiências neuromotoras. As regras determinam que as equipes devem ter, durante todo o jogo, ao menos um jogador das classes FT5 ou FT6, e só pode ter um jogador da classe FT8.
Na natação, algumas subdivisões
Além das classes "S", que indicam os nados livre e borboleta, a natação também tem os atletas "SB" (nado peito), e "SM" (para as provas medley).
Se no atletismo os tipos diferentes de deficiência são separados, na natação o processo é diferente. As classes de 1 a 10 indicam deficiências físicas que podem incluir desde atletas com problemas musculares a com membros amputados. Os avaliadores respeitam um sistema de pontuação que considera o grau de limitação na água para definir a classe.
Os números de 11 a 13 são as classes de deficientes visuais, e a 14 é de deficientes intelectuais.