Está tudo certo, Bolt
Depois de ver Usain Bolt ganhar mais uma medalha de ouro, desta vez nos 200m, mantendo-se invencível em três edições de Olimpíadas, você deve estar pensando quem, nesse mundo de mortais, poderá superar um raio como ele. Não perca tempo. Hoje, esse homem não existe. Enquanto o adversário não nasce ou se constrói entre os que já estão no circuito, ele vai se divertindo. E vencendo.
Leia mais:
Dalilah Muhammad ganha o ouro na prova dos 400m com barreiras
Eaton iguala recorde olímpico e conquista ouro no decatlo; brasileiro é 10º
Darlan Romani não sobe ao pódio no arremesso do peso, mas fica entre os cinco melhores da mundo
Foi o que o mundo viu nesta quinta-feira, na noite amena que parecia perfeita no Rio até uma chuva fina chegar sem ser convidada e retirar as condições ideais. Na pista molhada, o jamaicano de 29 anos repousou sobre o peito a sua oitava bolacha dourada da carreira – em oito finais –, a segunda no Rio 2016, como se fosse um adulto brincando entre crianças. Passeou desde a largada até a linha de chegada. Cravou 19seg79, bem adiante do canadense de prata Andre de Grassie (20seg02) e do francês de bronze Christophe Lematre (20seg12).
– Usain Bolt! Usain Bolt! Usain Bolt! – era o grito único, como se os outros corredores não existissem.
O público, que novamente não lotou a totalidade das dependências do Engenhão, mesmo com a organização jurando ter vendido todos os ingressos, delirou. Assistiu a prova em pé. Se for ouro também nesta sexta-feira, no revezamento 4x100, serão nove somando Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016. O mais incrível em Bolt é que suas brincadeiras não lhe tiram o foco e nem roçam na arrogância.
A superioridade é tanta que não há armadilha emocional que o traia. Durante o aquecimento, por exemplo, dentro de uma sala reservada do Engenhão, deu para vê-lo parar quando ouviu o hino americano, durante uma cerimônia de premiação. Não era o do seu país, mas ele suspendeu os exercícios em sinal de respeito. Antes da prova, repetiu as tiradas que o público espera dele.
Quando a câmera parou nele e seu rosto surgiu no telão, gestos, piscar de olhos, sorrisos, uma troca rápida de cara feia para alegre, na maior onda. Até dançou. Antes do tiro de largada, o indicador diante dos lábios, pedindo silêncio e sendo imediatamente atendido. O dono da festa, literalmente.
Na festa da vitória, uma homenagem da organização ao raio. Enquanto ele comemorava, tocou Bob Marley no sistema de som: "Let's get together and feel alright". Ele adorou, com a bandeira da Jamaica às costas, uma tradição de suas vitórias. Mas, dessa vez, uma do Brasil dividiu os seus ombros, enquanto se curvava em agradecimento ao público, que dançava o velho e bom reggae. Foi um show, arrematado com um beijo na raia 6 e o sinal característico do raio.
Todos estavam ali para vê-lo, afinal, antes de mais nada. E, depois, para dizer aos amigos que viram de perto Usain Bolt faturar mais um tricampeonato, o dos 200m, já alçado à condição de lenda do esporte.